*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sexta-feira, 11 de março de 2011

De Nelson Motta - Como seu próprio nome antecipava, o bloco carnavalesco "Que merda é essa?", usando camisetas com Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, enfrentou protestos irados de militantes que denunciaram o escritor por racismo contra Tia Nastácia e recomendaram ao Ministério da Educação o seu banimento das escolas públicas.

Com o avanço do politicamente correto, "Índio quer apito" será um dos próximos alvos, pela forma pejorativa de se referir aos nossos silvícolas... Por seu desrespeito à diversidade sexual e sua homofobia latente, Cabeleira do Zezé não deverá mais ser cantada nas ruas e em bailes, por estimular preconceitos contra homossexuais. Nem Maria Sapatão, a correspondente feminina da violência homofóbica contra o Zezé ("Corta o cabelo dele!" ). Além da ofensa ao profeta Maomé, ao compará-lo a um gay cabeludo. Por muito menos Salman Rushdie teve de passar anos escondido da fúria islâmica.

Precursor do politicamente correto, o fundamentalismo islâmico exigirá a proibição de Alá-Lá-Ô por usar com desrespeito o Nome Supremo em festas devassas e ofender o Islã. [...] Pelo uso do termo pejorativo e racista "crioulo" não escaparão da condenação nem os ilustres afro-brasileiros Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Anescarzinho e Jair do Cavaquinho, criadores do clássico Quatro Crioulos, em 1965. Além da palavra maldita, a música diz que eles ocupam boquinhas públicas, em plena ditadura: "São quatro crioulos inteligentes/ rapazes muito decentes/ fazendo inveja a muita gente/ muito bem empregados numa secretaria"

O Samba do Crioulo Doido, de Sérgio Porto, é pior: por sugerir que a burrice e a ignorância seriam exclusivas dos negros e associá-las ao mundo do samba. Puro preconceito: a estupidez não escolhe cor e também abunda no rock, na política e no esporte. E cada vez mais nos meios acadêmicos racialistas e politicamente corretos.  Bom carnaval multicultural! – Trecho do artigo, publicado em várias colunas de jornais na internet.

Na próxima semana chega ao Brasil, David Harsanyi, es­critor e articulista americano para lançar o livro "O Estado babá — como radicais, bons samarita­nos, moralistas e outros buro­cratas cabeças-duras tentam infantilizar a sociedade" - segundo matéria no jornal Globo de 6.3.11: “O autor denuncia um Estado demasiadamente prote­tor e paternalista como agente transformador dos cidadãos em crianças mimadas e vitimizadas. Na sua mira, estão leis contra o fumo em locais públicos, o cer­co a alimentos considerados não saudáveis, censuras às be­bidas alcoólicas e várias regras sociais definidas por ele como intromissões nocivas nos direi­tos dos indivíduos”. Ele é contra até a obrigação da utilização do cinto de segurança, lá, nos EEUU.

Acho que essa coisa do politicamente correto deve tem um meio termo, até porque se liberar geral de repente você chega em casa, vindo de um dia cansativo de trabalho e tem neguinho sentado na sua sala, bebendo sua cerveja e dando uns amassos na sua esposa, tudo em nome de uma sociedade livre de preconceitos - e o pior (ou melhor não sei) se ela, a sua mulher, aderir ao movimento.

Mas tem gente indo um pouco longe demais. Se continuar assim o que será da folia da Branca de Neve com os setes anões, dos casos Batman & Robin, Mandrake & Lotar, dos interesses escusos da Bela em A Bela e a Fera (já andam dizendo que o nome de batismo da Bela era Marcela, mas é maldade do povo), isso sem falar nos lobos. Todo mau caráter das historinhas infantis é representado por um lobo. O lobo tarado do Chapezinho Vermelho, o lobo pedófilo dos Três Porquinhos, até Pedro e o Lobo, mesmo sendo uma história com o objetivo pedagógico de mostrar às crianças as sonoridades dos diversos instrumentos, o bicho janta um pato logo nos primeiros acordes da história. Por que nunca usaram um elefante, um jacaré, não, tem que ser um lobo e “mau”. Tem até um no Ministério das Minas e Energias, mas aí não é história pra criança e assunto pra outra folia.

Pra encerrar, minha amiga Cacau alerta, por email, que “politicamente correto” é um oximoro, pois constitui uma figura da linguagem que tenta harmonizar dois conceitos opostos numa só expressão. Ta vendo como é bom ter amigos cultos e ocultos. Oximoros a parte temos que concordar, pois na prática, tudo ligado a política está muito longe de ser correto.

Alias, ontem (9.3.11), vi um filme que aborda muito bem o assunto do “politicamente correto”: “Revelações” que não tem nada a ver com o título original “The human stain”, algo como “o homem desonrado ou maculado”. Com Anthony Hopkins e Nicole Kidman, uma das minhas musas do cinema atual, vale a pena ver. O filme é de 2003, mas a história é muito atual. Comprei o meu, como um cidadão politicamente correto, nas promoções das Lojas Americanas, mas tem nas “feiras do paraguai” por esse país a fora.

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