*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O sucesso do combate não é subjugar e sim conquistar

Prender manifestantes com base na Lei de Segurança Nacional é uma reviravolta na onda de protestos. O primeiro problema é se é possível encaixar nela as badernas dos últimos meses. Os manifestantes estão tentando mudar o regime vigente (artigo 16) ou impedir o exercício dos poderes da União ou dos Estados (artigo 18)? Vale lembrar que uma referência frequente às manifestações é a ausência de uma agenda clara. Se não está claro qual o objetivo, como dizer que atenta contra a segurança nacional?


Mas ainda que decidamos que a LSN é aplicável, há o problema se devemos usá-la para ajustar nosso relógio democrático. A atual LSN surgiu em 1983, na última ditadura, e é uma variação de outras leis do governo Vargas e reinventadas nos anos 1960 e 70. Todas tiveram o objetivo de suprimir movimentos que ameaçassem o ditador de plantão. E é essa sua linhagem histórica que nos obriga a ponderar se o uso de uma lei criada para proteger ditaduras é a melhor solução na preservação da democracia. Leia


MILLÔR: Vocês melhoraram a Academia no sentido de não a renegar, porque em certo momento ela era de muito baixo índice. Vocês entrando melhoraram o índice. Há certos setores no Brasil que estão mais ou menos corrompidos e eu pergunto se se deveria fazer a mesma coisa nesses setores, como vocês fizeram na Academia?
REBELO: Eu acho que o melhor combate é se procurar entrar na fortaleza a con­quistar, não é você dar tiro de fora, é pro­curar uma brecha e começar a influir dentro. Creio que a oposição pode ser feita no seio da própria instituição, você tem que penetrar, não pode combater de longe, tem que entrar dentro da jogada e aí se apresenta um novo clima, um novo método de comportamento. E se vê en­tre as pessoas que antes eram adversárias suas, que as coisas não são tão diferentes como se parecem ser, os pontos de vista não são tão distantes. A conquista deve ser feita nesta base, você não pode agre­dir demais. Tem que mostrar os erros das instituições, mas procurando penetrar nelas para alterá-las, senão elas ficam sempre em mãos de outras pessoas.
MILLÔR: Isto, em suma, é a defesa da evolu­ção e não da revolução?
REBELO: Exatamente. Revolução real­mente, no mundo, não existe. Existe uma evolução e, às vezes, pequenos gol­pes que alteram a fisionomia de certas situações, compreende?
JAGUAR: Você acha que a literatura conti­nuará sempre, ou virão outros meios de comunicação que a substituirão?
REBELO: Até hoje, de todos os meios de locomoção, o mais fácil é andar a pé. De maneira que eu creio que muitos meios de comunicação virão, mas para as mas­sas, e a literatura, segundo me consta, não é para as massas, é para a elite. O pensamento mais alto não é para você distribuir em Cascadura, não é? Só che­ga à massa quando não for mais de elite.
JAGUAR: Quer dizer que haverá sempre se­guidores da seita secreta?
REBELO: Exatamente, porque antes de mais nada a arte é sempre um avanço que não pode ser facilmente compreen­dido pela massa. Todo avanço artístico, literário, teatral é primeiro um trabalho de elite, queira ou não queira, e o resto é bobagem.
JAGUAR: O que você acha da televisão?
REBELO: Eu acho que a televisão, e eu já disse isso há muitos anos, em todo mundo que eu conheço é sempre má, não é um privilégio nacional. Porque exata­mente ela tem o defeito de querer con­quistar massas e você não conquista mas­sas com coisas inteligentes.
MILLÔR: Você falou em literatura para elite e falou que alguns homens são impor­tantes. Você está defendendo de um mo­do geral um pensamento elitista?
REBÊLO: É claro e evidente. Não é possível você fazer uma massa sem que ela tenha uma elite capaz de conduzi-la. Não há país no mundo que subsista pensando em massificação. Você tem que dar à massa o que é possível de bom para ela melhorar, mas isto é produto de um pequeno pu­nhado de valores, pessoas que realmente pensam e sabem o que querem. O resto acompanha, é o sereno do mundo.
MILLÔR: Você acha então que a palavra conti­nua sendo a suprema forma de expressão?
REBÊLO: Eu acho que a palavra continua sendo a única forma suprema de expres­são, nada a substitui. Trecho da entrevista de Marques Rebêlo, para “O Pasquim – Antologia”, vol. I (1969/1971)

Pesquisa Q&M: Marques Rebelo, pseudônimo literário de Eddy Dias da Cruz. Foi um escritor e jornalista brasileiro. Foi fundador de vários museus no país dentre estes o Museu de Arte de Santa Catarina, o Museu de Belas-Artes de Cataguases, e o Museu de Arte Moderna de Resende. Marques Rebelo foi eleito, em 1964, à cadeira Nº 9 da Academia Brasileira de Letras, ocupando-a ativamente de 1965 à 1973, ano em que faleceu.

Nota de rodapé: O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu na tarde desta quarta-feira soltar o casal Luana Bernardo Lopes, 19, e Humberto Caporalli, 24, presos durante um protesto no centro de São Paulo na segunda-feira . Eles foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional, que prevê pena de três a dez anos a quem praticar crimes como sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, estaleiros, portos e aeroportos. Leia