*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Da série “As Fábulas de Esgoto”

A Esparrela


Prelúdio

“Um trecho do livro “Eu sou Malala”, da jovem que foi baleada por extremistas talibãs, em 2012, por defender o direito à educação das mulheres no Paquistão: Em meu país, os políticos não têm escrúpulos. Para começar, são ricos, e nós somos um país pobre. Mas, mesmo assim, eles não param de roubar. Deve ser terrível viver num país assim  Ancelmo Gois/O Globo

O “águia” no ninho das cobras

O deputado estadual, Gustavo Perrella, usou verbas indenizatórias da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para abastecer o helicóptero apreendido no último fim de semana [24], com 443 quilos de cocaína. O Ministério Público Estadual instaurou procedimento para investigar o uso de recursos públicos na compra de combustível para a aeronave - que pertence à empresa de familiares do pai dele, o senador Zezé Perrella (PDT) - e para o pagamento do piloto Rogério Almeida Antunes, que foi preso com a droga.

Nesta quinta-feira, 28, a Mesa Diretora da Assembleia mineira decidiu proibir o reembolso de abastecimento de aeronaves. De acordo com os dados de prestação de contas da Assembleia Legislativa relativos à verba indenizatória, Gustavo Perrella gastou, apenas em 2013, pouco mais de R$ 40 mil com combustível.

Deste total, R$ 14 mil são referentes a notas para reembolso de gastos com querosene para abastecimento do helicóptero Robinson R-66, de propriedade da Limeira Agropecuária e Participações Ltda., fundada pelo pai do deputado. Atualmente, a empresa tem como sócios Gustavo, sua irmã Carolina Perrella e um primo deles, André Almeida Costa.

O uso de verba indenizatória para abastecer a aeronave particular já levou o Ministério Público a instaurar investigação também contra Zezé Perrella relativa ao período em que o atual senador ocupava cargo de deputado estadual em Minas, na legislatura anterior. Segundo o promotor Eduardo Nepomuceno, o procedimento está "bem adiantado" e o senador pedetista e ex-presidente do Cruzeiro deverá ser alvo de ação por improbidade administrativa.

Gustavo Perrella, além de utilizar a verba indenizatória para abastecer o helicóptero, indicou Rogério Antunes para um cargo na 3.ª Secretaria da Mesa, ocupada pelo deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT). O piloto só foi exonerado após a divulgação de que ele era funcionário da Casa, dois dias depois de ser preso em flagrante com mais três pessoas no município de Afonso Cláudio (ES).

O dia do “Farinhaço”

Nesta quinta [28], dezenas de pessoas promoveram um "farinhaço" na Assembleia. Eles espalharam farinha de trigo nas escadarias e na entrada da Casa, em referência à cocaína apreendida no helicóptero. Após o protesto, a Assembleia divulgou nota informando que a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar do Legislativo mineiro vai realizar "todas as apurações necessárias" sobre o caso. Leia  

A grande família

Três contratos sem licitação pública, feitos entre o governo estadual e a empresa Limeira Agropecuária e Participações Ltda, de familiares do senador Zezé Perrella, estão na mira do Ministério Público de Minas Gerais por suspeita de favorecimento. A empresa, no papel, é do filho do senador, o deputado Gustavo Perrella; da filha, a psicóloga Carolina Perrella; e do primo André Costa. A Limeira, entre outros bens, é proprietária do helicóptero Robinson 66, avaliado em R$ 3 milhões, apreendido no domingo passado pela Polícia Federal, no Espírito Santo, com 443 quilos de cocaína a bordo.

Na ação civil pública, que será proposta nos próximos dias, o MP vai pedir a perda do mandato de Gustavo Perrella, sua condenação por improbidade administrativa, além de um ressarcimento de R$ 7,4 milhões aos cofres públicos de Minas. Pela investigação, os repasses da Epamig para a Limeira foram realizados em 2009, 2010 e 2011. Nesse último ano, Gustavo já tinha o mandato parlamentar, o que é vedado por lei. "A Constituição é clara. A partir da expedição do diploma, deputados e senadores não poderão ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de Direito público", explicou o promotor Eduardo Nepomuceno. Por Ezequiel Fagundes e Chico de Gois/O Globo

Posfácio

Esta fábula fabulosa, é claro, não se encerra aqui: “Jorge Hage, com a autoridade e experiência de ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, afirma que, no Brasil, processos só chegam ao fim em menos de 20 anos "se o acusado quiser". Caso, entenda-se, o processado tenha conta bancária capaz de financiar a contratação de bons advogados e trafegue sem dificuldades por gabinetes do poder, duas condições que costumam andar juntas.” - O Globo/Opinião/Recursos ilimitados são incentivo à impunidade

Portanto aguarde, pois nos próximos 20 anos - passam rápidos - muita coisa pode mudar... quem sobreviver, verá!  

Notas de rodapé:
#1 - Adivinha quem é o advogado do deputado mineiro cujo helicóptero foi apreendido pela Polícia Federal com 445 kg de pasta base de cocaína? Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay – quem mais poderia ser? Tutty Vasques/Estadão
#2 - Assista o comentário de Ancelmo Gois: O helicóptero da suspeição