A Esparrela
Prelúdio
“Um trecho do livro “Eu sou Malala”,
da jovem que foi baleada por extremistas talibãs, em 2012, por defender o
direito à educação das mulheres no Paquistão: Em meu
país, os políticos não têm escrúpulos. Para começar, são ricos, e nós somos um
país pobre. Mas, mesmo assim, eles não param de roubar. Deve ser terrível viver num país assim” Ancelmo Gois/O Globo
O “águia” no ninho das cobras
O deputado estadual, Gustavo Perrella, usou verbas
indenizatórias da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para abastecer o
helicóptero apreendido no último fim de semana [24], com 443 quilos de cocaína.
O Ministério Público Estadual instaurou procedimento para investigar o uso de
recursos públicos na compra de combustível para a aeronave - que pertence à
empresa de familiares do pai dele, o senador Zezé Perrella (PDT) - e para o
pagamento do piloto Rogério Almeida Antunes, que foi preso com a droga.
Nesta quinta-feira, 28, a Mesa Diretora da
Assembleia mineira decidiu proibir o reembolso de abastecimento de aeronaves.
De acordo com os dados de prestação de contas da Assembleia Legislativa
relativos à verba indenizatória, Gustavo Perrella gastou, apenas em 2013, pouco
mais de R$ 40 mil com combustível.
Deste total, R$ 14 mil são referentes a notas para
reembolso de gastos com querosene para abastecimento do helicóptero Robinson
R-66, de propriedade da Limeira Agropecuária e Participações Ltda., fundada
pelo pai do deputado. Atualmente, a empresa tem como sócios Gustavo, sua irmã
Carolina Perrella e um primo deles, André Almeida Costa.
O uso de verba indenizatória para abastecer a aeronave
particular já levou o Ministério Público a instaurar investigação também contra
Zezé Perrella relativa ao período em que o atual senador ocupava cargo de
deputado estadual em Minas, na legislatura anterior. Segundo o promotor Eduardo
Nepomuceno, o procedimento está "bem adiantado" e o senador pedetista
e ex-presidente do Cruzeiro deverá ser alvo de ação por improbidade
administrativa.
Gustavo Perrella, além de utilizar a verba indenizatória
para abastecer o helicóptero, indicou Rogério Antunes para um cargo na 3.ª
Secretaria da Mesa, ocupada pelo deputado estadual Alencar da Silveira Júnior
(PDT). O piloto só foi exonerado após a divulgação de que ele era funcionário
da Casa, dois dias depois de ser preso em flagrante com mais três pessoas no
município de Afonso Cláudio (ES).
O dia do “Farinhaço”
Nesta quinta [28], dezenas de pessoas promoveram um
"farinhaço" na Assembleia. Eles espalharam farinha de trigo nas
escadarias e na entrada da Casa, em referência à cocaína apreendida no
helicóptero. Após o protesto, a Assembleia divulgou nota informando que a
Comissão de Ética e Decoro Parlamentar do Legislativo mineiro vai realizar
"todas as apurações necessárias" sobre o caso. Leia
A grande família
Três contratos sem licitação pública, feitos entre o
governo estadual e a empresa Limeira Agropecuária e Participações Ltda, de
familiares do senador Zezé Perrella, estão na mira do Ministério Público de
Minas Gerais por suspeita de favorecimento. A empresa, no papel, é do filho do
senador, o deputado Gustavo Perrella; da filha, a psicóloga Carolina Perrella;
e do primo André Costa. A Limeira, entre outros bens, é proprietária do
helicóptero Robinson 66, avaliado em R$ 3 milhões, apreendido no domingo
passado pela Polícia Federal, no Espírito Santo, com 443 quilos de cocaína a
bordo.
Na ação civil pública, que será proposta nos próximos
dias, o MP vai pedir a perda do mandato de Gustavo Perrella, sua condenação por
improbidade administrativa, além de um ressarcimento de R$ 7,4 milhões aos
cofres públicos de Minas. Pela investigação, os repasses da Epamig para a
Limeira foram realizados em 2009, 2010 e 2011. Nesse último ano, Gustavo já
tinha o mandato parlamentar, o que é vedado por lei. "A Constituição é
clara. A partir da expedição do diploma, deputados e senadores não poderão ser
proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor
decorrente de contrato com pessoa jurídica de Direito público", explicou o
promotor Eduardo Nepomuceno. Por
Ezequiel Fagundes e Chico de Gois/O Globo
Posfácio
Esta fábula fabulosa, é claro, não se encerra aqui: “Jorge
Hage, com a autoridade e experiência de ministro-chefe da Controladoria-Geral
da União, afirma que, no Brasil, processos só chegam ao fim em menos de 20 anos
"se o acusado quiser". Caso, entenda-se, o processado tenha conta
bancária capaz de financiar a contratação de bons advogados e trafegue sem
dificuldades por gabinetes do poder, duas condições que costumam andar juntas.”
- O
Globo/Opinião/Recursos ilimitados são incentivo à impunidade
Portanto aguarde, pois nos próximos 20 anos - passam
rápidos - muita coisa pode mudar... quem sobreviver, verá!
Notas de rodapé:
#1 - Adivinha quem é o advogado do deputado mineiro cujo
helicóptero foi apreendido pela Polícia Federal com 445 kg de pasta base de cocaína?
Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay – quem mais poderia ser? Tutty Vasques/Estadão