*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Ruídos do Natal

“Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão” Mario Quintana


Do Santo: A mídia fala muito de mim. Eles inventam um monte de mentiras e querem que eu fracasse, mas eu nunca vou deixar vocês. Ser um belieber é um estilo de vida... Sejam bons amando uns aos outros, perdoem uns aos outros assim como Deus nos perdoou através de Cristo. Feliz Natal. Estou aqui para sempre. Justin Bieber em mensagem de fim de ano e, “supostamente”, preparando seu retorno ao paraíso - Ops! – seu retiro do mundo profano dos palcos. Confira

Do Padre da Igreja de São Francisco de Assis, no Rio Comprido, dia destes, durante uma missa de sétimo dia, ao criticar o consumismo em época de Natal: Nesta época do ano, diante do consumismo desenfreado, constato que o diabo não veste Prada. O diabo veste Saara. Aquilo lá, neste mês de dezembro, em virtude do excesso de compras, vira um inferno! - Ancelmo Gois/O Globo

Do desavergonhado: Renan Calheiros em cadeia nacional de TV às vésperas do Natal defendendo a austeridade de sua gestão na presidência do Senado foi um desses momentos de deboche mais descarados da política em 2013! - Tutty Vasques/Estadão

Dos Cachorros de estimação ganham mimos durante todo o ano. São roupinhas, ossinhos, brinquedos - sem falar num bom petisco, vez ou outra. No final do ano, é natural que os donos sintam vontade de presentear seus pets e de incluí-los nas comemorações natalinas. Aqueles que costumavam deixar embaixo da árvore de Natal um pacotinho para o dog podem se animar com uma novidade inusitada do mercado pet: festas de Natal para cachorros.

Com decoração temática, "au-migo-secreto" e ceia de Natal, com direito a "cãonetone" (feito com base na receita do panetone), "cãolomba natalina" (criada a partir da tradicional colomba), peru assado e saladinha de lentilhas, essas festas de Natal para cães, mais comuns em outros países, como Estados Unidos, prometem agradar aos pets e reunir donos numa confraternização bastante divertida.  Confira.

Das calamidades: O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca disse de forma tão enfática: “Ele pode se preparar que eu volto em 2018”. Ele, no caso, é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que disputará o Planalto com a presidente Dilma Rousseff, preferida de Lula. “Vou acampar em Pernambuco”, disse Lula, segundo o relato de um de seus ministros. “Se me provocarem, vou me preparar para a sucessão da Dilma. O PT vai ficar 20 anos no poder.” Confira.

Do Jabor: Todo ano eu escrevo sobre o Natal no Natal. Hoje, escrever sobre quê? Sobre o "mensalão"? Sobre o Natal na Papuda? Todos os natais são iguais: um sentimento de solidariedade jamais praticada durante o ano. Eu tento ser original, mas esbarro na mesmice dos dias natalinos; parece que o tempo é o mesmo dos anos cinquenta. Por isso só me resta repetir ideias dos melhores trechos de anos passados. Os primeiros indícios do Natal surgem com ralas bolinhas douradas nas lojas, depois uma arvorezinha, ate que aparece a figura eterna de Papai Noel.

Não creio que Papai Noel seja muito querido, a não ser pelas criancinhas ainda sem web e videogames; os adultos sentem um vago mal estar diante daquele S. Nicolau que foi inventado na Noruega, aquelas barbas e roupinha quente para nosso verão. O que inquieta é a total falta de relação do Papai Noel com nossa vida cotidiana. De repente, ele surge como um invasor sorridente, um embaixador do Polo Norte, como um RP para lojas e supermercados, como se dissesse em seu ho ho ho: "Não se preocupem...tudo está bem...eu sou a bondade e o mundo muda mas eu não. Estarei sempre aqui, uma vez por ano. Rodeado por meus veadinhos e entrando pela chaminé que não existe mais". Papai Noel é o quê? Um santo, um lobista do comercio, um espião da NSA? O mundo está muito mudado. Até quando? Será que no ano 2050 ainda haverá Papai Noel?...

Lembro-me que no Natal, durante as ceias, eu via do meu canto de menino melancólico as ligações frágeis entre parentes, entre tios e primos, as antipatias disfarçadas pelos abraços frios e os votos de felicidades. O destino das famílias fica evidente no Natal. Os pobres se conformando com o tosco prazer dos presentes baratos e os ricos querendo provar que serão felizes a qualquer preço. Canalhas e egoístas o ano inteiro, esfalfam-se para viver uma alegria compulsiva entre gargalhadas solidárias, beijos molhados de vinho e uísque, terminando nas tristes saídas na madrugada, com crianças chorando e presentes carregados com tedio por pais de porre, aos berros de "feliz natal"... Eu olhava aquelas famílias viajando no tempo como um cortejo trôpego, eu via a solidão de primos, das tias malucas, dos avós já calados e ausentes, o eterno presunto caramelado, o peru com apito...

E hoje, mesmo com o futuro cada vez mais ralo, confesso que tenho saudades da precariedade de nossa vida antiga, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e má. "Ah! Você por acaso quer a volta do atraso?" - dirão alguns. Não. Tenho saudades retrógradas dos tempos analógicos, do ritmo lento do dia a dia, sonho com uma vida delicada que sumiu, dos lugares-comuns, dos chorinhos e chorões, de tudo que era baldio, dos valores toscos da classe média. E quando chega o Natal, mesmo irritado com os "sinos que bimbalham", tenho a grande nostalgia das tristes ceias de minhas tias, sinto ainda o gosto dos "panetones" e rabanadas transcendentais do meu passado.

Hoje, no presépio de Belém, perto da manjedoura onde o menino Jesus recebeu os reis magos, nos lugares sagrados de Jerusalém, explodem os homens-bomba berrando "Feliz Natal, cães infiéis!". Leia na íntegra


Das notas de rodapé: O espírito do Natal permite uma pergunta ingênua, bobinha até. Estes caças suecos, uma arma de guerra, vão custar R$ 10,5 bilhões. Não seria melhor usar esta grana em saúde e educação? Cartas para a Redação - Ancelmo Gois/O Globo