*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Especial: Como digerir esse óleo amargo?

O governo Dilma e os partidos que o sustentam, sobretudo o PT e o PMDB, vão pagar a conta do escândalo Petrobras. Mas analistas políticos avaliam que os desdobramentos da Operação Lava-Jato serão mais amplos. As empreiteiras financiaram cerca de 200 deputados eleitos de 23 partidos. No Brasil, as grandes empresas doam para candidatos de todas as legendas, e dinheiro não tem carimbo. Não há quem possa dizer que “a minha doação é honesta e a do meu adversário é fruto de roubo”. O financiamento eleitoral está nu. Sai fortalecida a posição, de seis ministros do STF, que declara inconstitucional o financiamento eleitoral pelas empresas. A reforma do processo político virou uma necessidade urgente.” Ilimar Franco/O Globo

De surpreendente, de espantosamente surpreendente, de favoravelmente surpreendente, o país assiste desde o início desta manhã [14] à prisão de executivos de grandes empreiteiras suspeitos de terem corrompido ou se deixado corromper no caso do escândalo do desvio de mais de R$ 50 bilhões da Petrobras. Passe os olhos sobre a nomenclatura das empreiteiras: Galvão Engenharia, Mendes Junior, Queiroz Galvão, Iesa, Iesa Oleo e Gás, Engevix, UTC, Constran, OAS, Odebrecht e Camargo Corrêa. O número de empreiteiras investigadas chega a 15, segundo a Polícia Federal. Mas, por ora, só há provas robustas contra nove...
Um dia desses, li no jornal O Estado de S. Paulo entrevista concedida por Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, indicado pelo PT. Duque jurou que a Petrobras está limpa. Foi preso hoje. É isso, pelo menos até agora, o que tem de diferente o escândalo que ameaça afogar a Petrobras no mar de lama que corre por lá desde o início do primeiro governo Lula. Ou mesmo desde antes. Dessa vez, tudo indica que não sobrará apenas para arraia miúda – embora seja difícil encontrar alguém miúdo quando se fala da Petrobras.
lDe curioso: o ministro da Justiça ordenou, ontem, que a Polícia Federal investigue quatro dos seus delegados que postaram elogios a Aécio Neves em um endereço fechado no Facebook. São delegados que comandam a devassa na Petrobras. O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada. O ministro quis lançar suspeição sobre os delegados. Foi isso.
lMenos de um dia depois, a Polícia Federal prende e acontece. Registre-se: ela não retaliou o ministro. Apenas cumpriu ordens da Justiça que amadureceram nas últimas semanas. De todo modo, o ministro poderia ter passado sem essa. Um delegado como qualquer cidadão pode manifestar opiniões políticas. Ricardo Noblat/O Globo CONFIRA

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque foi preso pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (14) durante nova fase da Operação Lava Jato, que investiga crimes de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a estatal. Duque é apontado por procuradores e policiais como o principal operador do PT nos desvios da Petrobras. Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, a diretoria de Duque repassava 3% dos contratos que assinava para o PT. A diretoria de serviços cuidava dos projetos de engenharia e das licitações de obras que foram superfaturadas, segundo o Tribunal de Contas da União, como a refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Indicado ao cargo pelo então ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, ele ocupou a diretoria de serviços da Petrobras entre 2003 e 2012. CONFIRA

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), é investigada por suspeita de receber propina para que o governo do estado antecipasse o pagamento de um precatório de R$ 120 milhões às construtoras UTC/Constran. O acordo teria sido intermediado pelo doleiro Alberto Youssef e foi descoberto no âmbito da Operação Lava-Jato. Pela suspeita de envolvimento da governadora, o caso foi apartado do processo e remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em função de seu foro privilegiado. Na sexta-feira, o governo do Maranhão negou que Roseane conhecesse ou tivesse estado com Youssef. CONFIRA

Se o país foi sacudido ontem por mais uma ação, a sétima, da Operação Lava-Jato, a diretoria da Petrobras ficou estarrecida com a prisão, nessa mesma investigação, de Renato Duque, um dos ex-diretores da empresa. Também causou surpresa a prisão de executivos das empreiteiras que prestam serviços à empresa. Comenta-se, ironicamente, em Brasília, que a Polícia Federal até que foi generosa em prendê-los só depois das eleições. Do contrário, não haveria quem pudesse assinar os cheques de doações aos candidatos de 2014.
A ação da PF reforçou ainda mais a tese dos que acham prematuro discutir as eleições, em fevereiro, das presidências da Câmara e do Senado, pois muitos dos seus postulantes poderão ser abatidos pela operação. Sabe-se lá, no caso do PMDB, que tem o comando das duas, se o Fernando Baiano, operador do partido, resolve abrir a boca na delação premiada. Aí não ficaria pedra sobre pedra. Jorge Bastos Moreno/O Globo 15/11

As nove empreiteiras alvos da Operação Lava-Jato possuem tentáculos por diversos setores da economia, e não apenas no de petróleo. Juntas, registraram faturamento de R$ 33 bilhões em 2013, segundo ranking da revista “O Empreiteiro”. Quase a metade desse montante está relacionado a contratos públicos. Este ano, elas contribuíram com ao menos R$ 218 milhões para candidatos e comitês eleitorais. As doações podem ser ainda maiores, porque os dados finais da campanha eleitoral só serão fechados no fim do mês, quando os partidos enviarem as prestações de contas dos candidatos que disputaram o segundo turno das eleições. CONFIRA

A Polícia Federal descobriu novos indícios de que o esquema de propinas na Petrobras serviu para alimentar o caixa do PT. Relatório da PF, ao qual O GLOBO teve acesso, aponta que uma das pessoas utilizadas para receber os recursos em nome do partido era Marice Correa Lima, cunhada do tesoureiro da legenda, João Vaccari. Ela é suspeita de ter recebido pelo menos R$ 110 mil do doleiro Alberto Youssef. O recurso teria sido proveniente da Construtora OAS e teria sido entregue na casa dela em 3 de dezembro do ano passado.
O nome de Marice não é desconhecido das investigações da PF. Ele apareceu durante o escândalo do mensalão. Diz o trecho do relatório da PF: “Marice Correa Lima é figura conhecida na época do mensalão, coordenadora administrativa do PT, que, na época, teria efetuado um pagamento de um milhão, em espécie, à Coteminas. Interessante ainda destacar aqui que Marice de Lima é cunhada do atual tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Observa-se portanto que a mesma continua atuando na movimentação de valores, ao que tudo indica para o Partido dos Trabalhadores, ao qual aparece vinculada”, diz um trecho do relatório da PF. Procurados, Vaccari e o PT não quiseram se manifestar. CONFIRA

Setor elétrico está na mira da Operação Lava-Jato - Nos depoimentos da Operação Lava-Jato, que investiga roubalheira na Petrobras, os inquisidores sempre perguntam sobre eventuais esquemas de propinas também no setor elétrico. Uma das indagações é a respeito da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em construção(*).
Operações financeiras dos grupos investigados na Operação Lava-Jato: R$ 10 bilhões;
Bloqueio em bens pertencentes a 36 investigados pela operação: R$ 720 milhões;
Prisão de empreiteiros envolvidos no escândalo: Não tem preço!(*)
(*)Ancelmo Gois/O Globo 16/11

As empresas da Lava-Jato têm intrincadas relações com o go­verno federal. Elas têm financia­mentos do BNDES e atuam nas principais obras do PAC. A Hidrelétrica de Belo Monte conta com participação de Odebrecht e Camargo Corrêa. Na usi­na Angra 3, atuam as duas e ain­da Queiroz Galvão e UTC. Camargo Corrêa e Queiroz Galvão estão à frente do trecho Sul da ferrovia Norte-Sul. Engevix é subsidiária de um grupo que investe no aeroporto de Brasília. UTC faz parte do consórcio concessioná­rio do aeroporto de Viracopos, em Campinas. A Galvão venceu, em maio des­te ano, licitação para duplicar a BR-153 entre Goiás e Tocantins. OAS também participou de leilões de rodovias, levando a 3R-040, que vai de Brasília a Juiz ie Fora. Mendes Júnior realizou is obras do porto do Recife e atua 10 de Maceió. lesa é a única que e concentra no setor de petróleo... nO Globo 16/11
èIsso, porque a turma tá esquecendo os “investimos” do Brasil em Cuba, Venezuela e o escambau à quatro... coisa duns US$ 7,8 bi de financiamento - eia-se BNDES - nos últimos sete anos CONFIRA

Nota de rodapé: De um criminalista do primeiro time, diante do escopo da nova leva de prisões e apreensões da Operação Lava-Jato: “Não vai sobrar advogado sem cliente”. Jorge Bastos Moreno/O Globo 15/11

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito.
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta...
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa...
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta...
De que adianta ter boa vontade...
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo... e
Me embriagar até que alguém me esqueça.
Colagem sobre versos da música “Cale-se” de Chico Buarque / Gilberto Gil

Na boca do gol - Circula no Planalto a informação de que mais de 30 parlamentares estão diretamente envolvidos no escândalo da Petrobras. Os nomes são mantidos a sete chaves pelo relator do processo, Teori Zavascki. O governo trabalha com a hipótese de os envolvidos serem expostos à opinião pública antes do fim do ano. O ambiente é de muita apreensão na Esplanada. Ilimar Franco/O Globo 16/11

A mão que balança o berço!