"A liberdade é um
cachorro vira-lata” Millôr
Fernandes
Saiu do frio de Teresópolis disposto a
ganhar a vida ao pé da serra, 70 quilômetros abaixo, na planície onde um grande
canteiro de obras rasga a paisagem de bois magros, mangues e brejos. Chegou na
ebulição de 2010, com a prefeitura contabilizando aumento populacional de 250
mil para 300 mil pessoas — um dos maiores acontecimentos demográficos desde a
construção do porto fluvial e armazéns no século XVI, quando Itaboraí entrou no
mapa do comércio de açúcar.
Marcos Paulo Pires e Silva apostou na reforma de um prédio
antigo no Centro. Mobiliou 63 suítes, abriu um restaurante para 350 refeições
diárias e contratou 43 empregados. Na fachada, fixou uma placa: "Pousada
do Trabalhador" A R$ 24 por cabeça, atraiu a tribo nômade de construtores
e montadores industriais, os peões de "trecho"! Na época, contou ao
GLOBO, os planos para erguer seis mil alojamentos. Era a imagem da prosperidade
afluente do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – Comperj - um dos
maiores empreendimentos da Petrobras.
“Como é que deixaram
chegar a esse ponto?... Destruíram tudo... Tanto roubo, e na empresa e no
governo ninguém nunca soube de nada? Gostei de ver na TV que eles estão indo
para celas na penitenciária, mas ainda deve ter muito segredo nessa história...”
[dizia Marcos Paulo], que desbordava em perplexidade na última tarde de março,
véspera do inesperado retorno à Serra. Percorria as pilhas de colchões,
travesseiros, mesas, armários e beliches e móveis na calçada. Tudo em liquidação,
para pagar os últimos empregados. Era o retrato de uma cidade subitamente
empobrecida pelo êxodo dos peões, dos executivos, das imobiliárias e das redes
nacionais de varejo. A corrupção na
Petrobras congelou vidas e obras em Itaboraí.
Há cinco anos, eram 29 mil pessoas
construindo um polo petroquímico, numa área 44 vezes maior que o Aterro do Flamengo.
O projeto sucumbiu na voragem da má gerência combinada à corrupção. Restam
menos de cinco mil operários no Comperj,
em Itaboraí. Fazem manutenção da obra paralisada de uma refinaria, plantada em
terreno com infraestrutura suficiente para uma grande central petroquímica. Já
é um dos mais caros empreendimentos da indústria mundial de petróleo e deverá
ser recordista em prejuízos por longo tempo.
“É extremamente cara,
não existe refinaria que pague essa infraestrutura... Temos que nos acostumar
com essa perda por alguns anos, e depois, quem sabe, voltar àquilo que a gente
imaginava que seria dez anos atrás. Mas nós poderíamos ter feito e aprovado um
projeto básico melhor. É um aprendizado”,
confirmou a ex-presidente da Petrobras Maria das Graças Foster, em
depoimento na Câmara três semanas atrás.
#OPINIÃOQ&M:
Cá pra nós, uma “ex-presidente” de uma das dez maiores petroleira do mundo - pelo
menos até 08/05/2014, segundo o ranque da Forbes das 200
maiores petroleiras do mundo - afirmar
que “... nós poderíamos ter feito e aprovado
um projeto básico melhor. É um aprendizado” não é bolinho não, até porque o
treinamento do “apredizando” não foi
pago por ela e custou à União – leia-se eu, você, seu vizinho do 402, o
porteiro do seu prédio... enfim a todos os brasileiros - US$ 8,1 bilhões, despesa esta, que segundo o TCU, foi ocultada
“das planilhas de investimento” pela “direção” da Petrobras... Confira
todo esse imbróglio, na íntegra, clicando aqui
Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho
E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...
Não dá pra ser feliz
É triste ver meu homem...
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros
Trechos dos versos da música “Um Homem Também Chora”
de Gonzaguinha
Clica aqui e confere lá... e pode
chorar a vontade, não tem ninguém te vendo, pois tudo isso, no fundo, é muito
triste.