Como os governos
brasileiros se comportam com as crianças?
-Com descaso. Boa parte delas não tem acesso a pediatra no
Brasil. O pediatra pode antecipar problemas que seus filhos podem ter, mas os
gestores públicos acham que para atender criança qualquer profissional serve.
No SUS, elas acabam sendo vistas por médicos generalistas ou enfermeiras que
pesam e medem, mas não sabem examinar nem identificar questões de
desenvolvimento, como déficit do crescimento e distúrbio de aprendizado. Depois
essas crianças têm sequelas que não se consegue corrigir. Quando entram na pré-escola
seu cérebro já perdeu a melhor oportunidade da vida. Têm dificuldade de
aprender, o que gera abandono escolar, desemprego. O Nobel de Economia James
Heckman disse que cada dólar investido na primeira infância (até 6 anos) dá um
retorno de 17 dólares para a sociedade.
O serviço privado
também enfrenta problemas, não?
-Os pronto-socorros infantis privados também estão lotados.
Os hospitais estão fechando leitos de pediatria porque atender criança não dá
lucro. As crianças fazem poucos exames e procedimentos, que é onde os hospitais
mais ganham. E como as operadoras de saúde pagam muito mal, tem havido muito
descredenciamento de pediatras dos planos. Elas deveriam remunerar o
atendimento da criança de maneira diferenciada. Na nossa profissão, com
pequenas ações, sem muitas tecnologias, podemos mudar o curso de uma vida. Trechos da entrevista com o pediatra Eduardo Vaz
para Mauro Ventura/Revista O Globo – Leia
na íntegra
Aliás e
a propósito: “No ano passado, com a ajuda do infatigável Eduardo Cunha,
a Câmara dos Deputados aprovou uma medida provisória com 523 contrabandos. Um
deles praticamente anistiava as operadoras de planos de saúde do pagamento das
multas cobradas pela agencia reguladora do mercado. A gracinha estabelecia um
sistema pelo qual quem mais delinquisse menos pagaria. Pela legislação, cada
procedimento médico negado custa uma multa de R$ 80 mil. Se uma empresa negasse
apenas um procedimento, pagaria isso. Se outra lesasse cem clientes, em vez de
pagar R$ 8 milhões, pagaria R$ 320 mil. O contrabando foi vetado pela doutora
Dilma.
O veto não foi suficiente para acalmar os empresários.
Afinal, eles investiram R$ 55 milhões nas campanhas eleitorais de 2014. Desde
julho circulam notícias de que o governo vem sendo pressionado para abrandar a
tabela de multas da Agencia Nacional de Saúde. As empresas devem algo como R$ 2
bilhões, resultantes de 50 mil multas. Ademais, são campeãs de reclamações da
freguesia. Elas vão a cem mil por ano...
Antes da operação Lava-Jato, as grandes empreiteiras achavam
que resolviam licitações e aditamentos com pixulecos no escurinho do cinema.
Deu no que deu. As operadoras de planos de saúde acham que não precisam mudar
de modos. Dará no que dará”. Trechos da
crônica “Nova macumba dos planos de saúde, por Elio Gaspari/O Globo”
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*Parodiando Fernando Pessoa