O
país vive a pior recessão em 25 anos. Antes disso, só a de 1990, quando o
governo Collor congelou saldos em contas-correntes e aplicações. Mesmo assim, a
inflação até setembro chegou a 7,64% e se aproxima de 10% em 12 meses. A
inflação é um dos principais entraves à recuperação. Há nove semanas sobem as
projeções de 2016, e agora se teme novo estouro do teto da meta. É difícil reduzir
os juros...
A alta dos preços, mesmo em um período de recessão, é uma
enorme trava para que o país se recupere. Isso diferencia o Brasil de outros
países da América Latina. Chile, Colômbia, Peru e México também estão sentindo
os efeitos da alta do dólar e da queda dos preços das commodities. Mas, nesses
países, os índices de preços não estão tão altos como aqui, e por isso esses
governos têm maior capacidade para assimilar esses dois choques, tanto o
cambial quanto o do comércio externo.
Uma parte da disparada inflacionária deste ano no Brasil vem
do tarifaço da energia elétrica. O governo reduziu tarifas e segurou os preços
mesmo com o esvaziamento dos reservatórios de água das hidrelétricas, que
garantem a energia barata. Este ano, houve a correção que todos os brasileiros
estão sentindo nas contas. Pelo número divulgado pelo IBGE, a energia já subiu
47% até setembro e 52% nos últimos 12 meses...
O principal problema foi a negligência com a inflação no
primeiro mandato da presidente Dilma, tanto por parte do Ministério da Fazenda,
que sempre considerou que um pouco mais de inflação não faria mal, quanto por
parte do Banco Central, que aceitou por tempo demais a inflação em torno do
teto da meta...
A inflação alta demais impede a queda dos juros, tira renda
das famílias, inibe investimentos e encurta a previsibilidade da economia.
Também deixa o país muito sensível à alta do dólar. Enquanto esse problema não
for superado, será difícil pensar em uma recuperação sustentável do
crescimento. Míriam Leitão/O Globo - Leia
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