*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Só quero rir os meus risos e poder chorar meus próprios prantos

De tudo ao meu amor serei atento...
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto...

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Trechos de “Soneto de Fidelidade” de Vinicius de Moraes


Não é bolinho não! Criar uma “mensagem” de despedida que represente meu sentimento, minha emoção em horas tais, é difícil, e se insistir acabarei chafurdando em algum “lugar comum”, até porque grandes ilustres já muito escreveram quase tudo, e muito bem escrito, sobre “despedida”. Portanto pra não desperdiçar mais tempo vou “colar” uma dessas – aliás, copiar&colar foi a função mor deste blog em todos esses anos. E, se é pra “colar”, ninguém a meu ver, se expressou melhor, sobre o que quero dizer neste momento, do que o Vinícius. Portanto, é nele que me inspiro, e “colo”: O que posso dizer do bloguinho amigo, é que não seja imortal, posto que é “ideia”, mas que seja infinito enquanto letra.

Foram quase cinco anos - a primeira postagem aconteceu numa terça-feira, 8 de março de 2011. Em se falando de “sites&blogs”, isso não é nada, mas pra mim é. Foi um tempo de muita ralação, muitas madrugadas, muitos fins de semana, muita pesquisa que na maioria das vezes redundaram em algumas linhas, adornadas por algumas fotos engraçadinhas e alguns comentários, nem sempre tão hilários assim.

Nem sempre “foi” possível “agradar” a todos, porém a ideia primária era tentar “agradar” a mim mesmo. Por isso o “foi” mais importante, aquele “valeuu!”, que vem lá de dentro do sei lá de onde - e que só eu consigo escutar - é aquele que durante todos esses “quase cinco anos”, o Q&M exerceu, diariamente, quando foi: minha dose de serotonina injetada diretamente na veia às quatro da manhã; o barato do baseado da flor da marijuana; meu plano de saúde sem carência; minhas seções de análise no sofá do velho Jung; uma Stolichnaya congelada, bebida a conta gotas, no gargalo... Sharapova em quadra de terra molhada; a emoção, tantas vezes liquefeita, do sabe-se lá porque, no sopro doloroso do sax de Gato Barbieri em “Passion and Fire”; meu Isordil com Red bull; um Glenfiddich 21, duplo, sem gelo; a Angelina Joli sem o Brad; a paz tsunâmica do “azul marprofundo” das íris da Arósio... Foram, nos selfies diários do espírito, onde pude revelar coisas que os negativos de uma Kodak ou uma Canon, uma Leica, Nikon ou Rolleiflex, jamais poderiam me ter revelado.

Mas tudo tem uma frequência, um ritmo, uma cadência que precisa ser reciclada senão desanda, e se não o fizermos nós mesmo, o tempo cuidará de fazê-lo e aí vai doer um pouco mais. Então, pra doer um pouco menos, vamu lá: O blog chega ao fim. Hoje fecha “as portas” e ponto final. Até, por falta de “pagamento”, já cortaram a luz da “redação”. Escrevo à luz de velas.   

Tasmania Guerra, se cá conosco ainda estivesse, cá comigo estaria braba. Anna Claudia Quil, a Cacau Quil, não atende minhas ligações desde quando comuniquei-lhe esta decisão. Tá devolvendo todos meus e-mails desde então. Estas duas criaturas foram as grandes incentivadoras da “ideia” e as grandes divulgadoras do blog. Obrigado “meninas”, mas é hora de baldear.

Aos meus personagens: “Da. Elizabeth, a primeira e única” e “Foca Veiga” – alter egos de responsa – também meu muiiiitoooo obrigado. Quando dei a notícia ao Foca ele ficou tão puto que disse: “Esta semana mesmo, vou para Al Raqqah, na Síria, ‘trabalhar’ pela causa do Estado Islâmico. E tu, nunca mais, vai me ver... vivo”. Tentei argumentar que alter ego só “morre” quando morre o “principal”, ou seja, o ego, mas ele não quis me escutar, bateu a porta, ganhou a rua e escafedeu-se através das intrincadas ruelas da periferia da minha obscura rede de neurônios.   

Porém quando se fala em humanas criaturas - ou quando as humanas criaturas “falam” – nem todas as letras carregam a fúria contida nas palavras de suas frases. Exemplos?: “Agora, basta. É pra sempre!”; “Nunca, nunquinha, jamais”; “Tu, ó, já é ontem”... e o trágico: “Adeus, e nunca mais me procure!... cachorro”.

Quem sabe a gente reestruture o blog, reformule a “ideia”, busque parcerias, ou mude de casa, de cidade, ou simplesmente, faça uma viagem... e mais outra... e mais outra... ou tudo isso junto, até que um dia, eu mesmo, possa constatar: -É, ele não vai voltar... cachorro!

O blog tem uma extensão - “Crônicas do Q&M” – que permanecerá ativa e que eventualmente  continuará a postar crônicas, matérias jornalísticas, textos enviados pelos amigos, foto interessantes, etc... etc... etc... O Q&M não será desativado, muito menos seu “espaço” será alugado à alguma igreja evangélica ou cedido para shows de duplas sertanejas. Só não irá mais ser atualizado.

E, finalmente, obrigado a você que, principalmente, pacientemente nos aturou, calado, todo esse tempo. No mais:

Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

Fila que anda. Vida que segue... Infelizmente não consigo - depois da morte do Rio Doce, dos atentados à Paris e outras barbáries – é desejar-lhe “Feliz Natal & Próspero Ano Novo”. Nada pessoal. Coisa que rola comigo mesmo. Como disse no título desta derradeira postagem: “Só quero rir os meus risos e poder chorar os meus próprios prantos”..., mas, quem sabe, qualquer dia desses a gente se encontra, em algum promontório deste mar de lama, e ainda possa rir muito de tudo isso. Tomara que dê tempo.
CDantas