O papa Francisco convidou as milhares de freiras que vivem enclausuradas a
não se deixarem "dissipar" pela internet, ao tornar públicas nesta
sexta-feira (22) as novas regras sobre a "vida contemplativa". "Em nossa sociedade, a cultura digital influencia decisivamente a
formação do pensamento (...). Este clima cultural não deixa incólumes as
comunidades contemplativas... Estes meios podem certamente ser instrumentos
úteis (...), mas peço-lhe o discernimento prudente, a fim de que sejam
colocados a serviço da formação à vida contemplativa (...), e não de ocasiões
de dissipação e fuga da vida fraterna em comunidade nem prejudiciais para a sua
vocação ou um obstáculo a sua vida inteiramente dedicada à contemplação",
escreveu o papa em sua Constituição Apostólica Vultum Dei quaerere (A busca do
rosto Deus). Quaerere
na íntegra
Atenas,
na Grécia Antiga, abrigou a primeira sociedade a acreditar que a liberdade de
expressão era essencial ao bom governo. Mais de 2.500 anos atrás, qualquer
cidadão ateniense podia falar livremente à assembleia reunida perto da
Acrópole. Todos ouviam. Decisões coletivas eram tomadas por meio do debate
aberto e de argumentos racionais, no regime chamado de “democracia”. Não é à
toa que, em grego antigo, discurso e razão são a mesma palavra, logos, de
onde derivaram a “lógica” e o “racionalismo”.
Hoje, a liberdade de expressão não é um conceito uniforme.
Mesmo as sociedades ocidentais, tidas como livres, a interpretam de modos
distintos. As mesmas manifestações contra etnias ou culturas podem ser
proibidas na Europa, mas permitidas nos Estados Unidos. Para não falar em
países autoritários, que cerceiam imprensa e cidadãos, como Rússia, China,
Venezuela ou ditaduras na África e no Oriente Médio. A internet encurtou as
distâncias, tornou mais agudos os dilemas – e mais urgentes as escolhas
relativas à liberdade de expressão. À medida que governos e corporações
digitais estabelecem controles sobre a informação, esvai-se o ideal da grande
praça global que traria, nos moldes atenienses, liberdade, democracia e
racionalidade a bilhões de conectados.
“Na internet, há um risco de fragmentação em milhares de
pequenos ‘casulos de informação’: câmaras de eco em que as notícias e opiniões
que vemos são as preferidas por quem pensa igual”, escreve o historiador
britânico Timothy Garton Ash no recém-lançado Free speech: ten principles
for a connected world (Liberdade de expressão: dez princípios para um
mundo conectado).
Ash apresenta um decálogo para tentar manter vivo o ideal
racional da livre troca de ideias no mundo convulsionado, dentro e fora das
redes sociais, pela intolerância com a diversidade, pela histeria politicamente
correta, pela invasão da privacidade e pelo mais abjeto e racista discurso de
ódio. Para lidar com esse “esgoto”, ele adota uma posição comum entre europeus
de esquerda. “Deveríamos limitar a liberdade de expressão o mínimo possível por
lei e pela ação executiva de governos e corporações”, diz. “Quanto menos
quisermos obrigar por lei, mais precisaremos fazer nós mesmos.” CONFIRA