Agora que o impeachment de Dilma Rousseff é irreversível,
temos de nos haver com Michel Temer na sua plenitude mesoclítica e mesozoica.
Dessa condição de político antiquado, ele tem a chance de passar à história
como o presidente que conseguiu recolocar o País na rota do crescimento
econômico, depois de quase treze anos de lambanças descomunais – que o tiveram
como cúmplice omisso, na melhor das hipóteses.
Ele já recolocaria o Brasil nos trilhos se errasse o menos
possível. Errar o menos possível significa cortar gastos e levar a corrupção
endêmica aos patamares pré-petistas. Michel Temer poderia almejar mais,
aproveitando-se da sua impopularidade, e fazer reformas estruturais, como a
trabalhista, a fiscal e a previdenciária. No entanto, o fato de ser mesozoico
talvez o impeça de seguir adiante. Cogitar candidatar-se a presidente em 2018,
por exemplo, é uma característica bastante mesozoica. Dinossauros relutam em
aposentar-se e costumam sair de cena somente quando atingidos por um meteoro
gigante.
Para que Michel Temer cumpra o seu ano e meio de mandato de
forma tranquila, não apenas a questão econômica tem de ser apaziguada. As
policiais e políticas também.
Acima de tudo, ele não pode ser enredado pela Lava Jato. Já
veio à tona que o PMDB levou 10 milhões de reais em espécie da Odebrecht, em
2014, depois que Michel Temer pediu "apoio financeiro" ao
incontornável Marcelo, em jantar no Palácio do Jaburu. O presidente confirmou o
jantar e que pediu dinheiro, "dentro dos limites da legalidade".
Parece conto da carochinha, mas talvez seja difícil obter provas concretas
contra Michel Temer. A ver.
Graças à autonomia da Lava Jato, Michel Temer não terá como
deter as investigações. Em outros aspectos, porém, é recomendável que ele aja.
José Yunes, o seu assessor especial, representa um enorme
risco de embaraços. Há boataria a respeitos das relações perigosas entre ele e
o presidente. Meu conselho a Michel Temer: afaste-o de Brasília. Outro
personagem que deveria ser gentilmente convidado a sair do governo: Geddel Vieira
Lima. Digamos que as suas latitudes são demasiadamente largas.
Por último, Henrique Meirelles. Não é possível que o Brasil
tenha, neste momento de crise profunda, um ministro da Fazenda com pretensão de
ocupar cargo eletivo. Tal pretensão o leva a fazer concessões na austeridade
necessária – como, aliás, vem fazendo, até por inabilidade no trato com
parlamentares. Na minha opinião, Henrique Meirelles não foi uma boa escolha. É
um sujeito de muito gogó e, segundo quem entende do assunto, pouco conhecimento
na área fiscal. O ideal seria contar com um ministro da Fazenda sem pretensões
políticas, perseverante no caminho do ajuste (até para não deixar Michel Temer
cair em tentações), com conhecimento profundo da máquina estatal e da
Constituição, além de hábil em negociar com o Congresso e avesso a plantar
notinhas na imprensa contra quem tenta auxiliá-lo.
Como tirar Henrique Meirelles seria traumático neste
momento, Michel Temer precisa contê-lo. É o contrário do que ocorre. Ajude-se,
presidente, a ter boa sorte. Por Mario Sabino/O Antagonista recebido por email