Você,
provavelmente, já ouviu falar do médico russo Ivan Pavlov — cujos cachorros,
acostumados a ouvir uma sineta ao ser alimentados, começavam a salivar toda vez
que ouviam o barulhinho, estando o prato cheio ou não. Pois bem, cem anos
depois dessa experiência, pode-se afirmar que os nossos celulares viraram
grandes bifes suculentos, enquanto nós, seres humanos modernos, viramos cães
insaciavelmente gulosos. Basta ouvir um “pim” vindo do aparelho para interromper
o que estamos fazendo e checar nossos telefones, como totós esperando por um
biscoitinho. Trata-se de um reflexo condicionado, explica o psicopedagogo
Eugênio Cunha, mestre em Tecnologia da Informação e Comunicação.
-É um sistema de recompensa. Ficamos o tempo todo checando o
celular, na esperança de um novo compartilhamento, de uma mensagem, de um post.
O cérebro recebe uma gratificação química e vivemos nessa expectativa. Vira
vício. E este vício já tem nome e desdobramento: nomofobia ou medo de ficar sem
celular. Traduz-se por aquele indivíduo que entra em pânico ao perceber que o
telefone vai ficar sem bateria, crédito ou sinal. Isso porque o homem moderno
criou uma relação de dependência com o dito-cujo: seja para pagar contas,
checar o trânsito, ver o horário do cinema, tirar uma foto ou até, quem diria,
telefonar. Sem este dispositivo, nos sentimos, mais ou menos, quando a luz
acabava e não sabíamos o que fazer. Pois bem, o nomofóbico sente tudo isso, mas
em outro nível, expresso por um terror irracional.
-Ninguém quer voltar para o mundo analógico, mas nem todos
estão preparados para a dependência digital. Existe até a Síndrome do Toque
Fantasma. Não tem gente que perde a perna e relata sentir dor naquele membro?
Da mesma forma, algumas pessoas sentem o celular vibrando e só então se dão
conta de que não estão com o aparelho ligado ou por perto. Gera uma obsessão —
diz o professor.
No Brasil, não há pesquisas para mensurar o tamanho do
problema. Mas nos Estados Unidos, sim. Que rufem os tambores: segundo o Pew
Research Center, 55% dos americanos usam o celular no carro; 35%, no cinema;
33%, num encontro romântico; 19%, na igreja; 12%, no chuveiro (!); e, pasmem,
9% sacam o celular enquanto fazem sexo.
O ator Álamo Facó está longe de ser nomofóbico — para
provar, há que se registrar que ele só atendeu à ligação para esta entrevista
na quarta tentativa. Há alguns anos, porém, uma certa dependência chegou a
incomodá-lo.
-Estava no meio da terapia quando chequei o telefone pela
terceira vez — conta rindo, sem neura. — Percebi que estava indo longe demais
quando sonhei que vivia no mundo do WhatsApp. Hoje, desligo o wi-fi da casa
inteira antes de ir para cama.
Segundo bloco da
reportagem “Nossa Maluquez”, de Natasha Mazzacaro, pulicada na REVISTA O GLOBO/Jornal
O Globo no domingo 28