*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sábado, 22 de outubro de 2016

“A Lava Jato é a fiadora da estabilidade”

Um dia depois da prisão de Eduardo Cunha, o presidente Michel Temer deu uma declaração sobre o assunto, por meio do seu porta-voz.
Disse o porta-voz: "A agenda política, de recuperação e reconstrução do Brasil, não se confunde com investigações levadas adiante pela Justiça. Na Operação Lava-Jato, relacionada à Justiça, o Executivo jamais interferirá em suas decisões."
Michel Temer, que estava no Japão, antecipou a sua volta ao Brasil por causa da prisão de Eduardo Cunha, prova maior de que a agenda política confunde-se, sim, com a Lava Jato. Aliás, a Lava Jato é A agenda política do Brasil. O futuro de PMDB, PT, PP e PSDB, assim como o de próceres seus, depende do que virá das delações e investigações em andamento.
Ou seja, a nota não traduz a verdade. E ao misturar na mesma frase "recuperação e reconstrução do Brasil" com Lava Jato, para implicitamente colocar-se como fiador da estabilidade, Michel Temer deixou os medrosos do mercado ainda mais sobressaltados. Resultado: lá está a Standard & Poor's soltando gritinhos como um porquinho assustado com o Lobo Mau. Quem confundiu tudo foi o presidente.
Os medrosos do mercado precisam entender que, neste momento, nenhum político pode afirmar que é fiador de nada. E que, se há chance de o Brasil sair do atoleiro, é porque existe Lava Jato. Com o apoio dos cidadãos de bem, ela está derrubando um a um os maiores corruptos da nossa história — fator essencial para que o capitalismo de verdade substitua as espúrias relações de compadrio que infeccionam a nossa economia. Como já escrevemos no site, se Michel Temer tiver de cair, ele cairá, porque se tornou incompatível com um país que nutre a esperança de adentrar a modernidade.
A nota presidencial apenas deveria ter dito que "Na Operação Lava Jato, o Executivo jamais interferirá em suas decisões". A Lava Jato é a fiadora da estabilidade.

Por Mario Sabino/O Antagonista, ontem.