“José Mariano Beltrame (foto)
pediu ao governo Temer para ser adido da Polícia Federal em Portugal ou no
Uruguai. Chances altíssimas” Lauro
Jardim/O Globo
José Mariano Beltrame, o gaúcho que entregou o espinhoso cargo de
secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro após um recorde
de quase dez anos, diz que seu substituto, o delegado Roberto Sá, não foi
apenas uma escolha pessoal sua. “Foi fabricado e produzido por mim e tem tudo
para ser melhor do que eu”, afirma, em entrevista a ÉPOCA. “Está mais
descansado.” O criador das UPPs defende seu projeto de todas as críticas e
atribui o enfraquecimento da pacificação a omissões do Estado. Abaixo o
blog selecionou trechos desta entrevista:
O tiroteio na favela do Pavão-Pavãozinho em Copacabana e a queda de um
bandido da encosta de um morro, na segunda-feira (10), foram a gota d’água para
sua saída?
-Absolutamente não. A UPP, na
verdade, desafiou o Estado brasileiro, desafiou o município e a sociedade,
desafiou o governo federal. O dever da segurança era de todos. Para dar um
exemplo: na segunda-feira, no Pavãozinho, havia lá um cidadão que, em 2009, deu
um tiro no Fernando Veloso [chefe da Polícia Civil que entregou o cargo um dia
depois do Beltrame] com uma “ponto 30” [metralhadora semiautomática] e foi
preso. Esse cidadão saiu em maio num indulto para aproveitar o Dia das Mães e
nós ficamos cinco meses atrás dele. E segunda-feira nos encontramos e aconteceu
o que aconteceu. Eu te pergunto: isso é problema da UPP? É problema da Polícia
Civil? O problema são instituições que deveriam assumir o “dever e fazer” do
Estado, mas não assumiram. O que me deixa agora meio assustado é ver ressurgir
a velha retórica de se buscar um culpado. E aí é assim: “Atira na Geni, na PM,
que cola”. Mas a PM ficou oito anos desafiando o Estado e nada aconteceu.
[...].
Em que momento o projeto das UPPs começou a fazer água? Faltou
dinheiro, vontade política ou ambos?
-Faltaram ambos, não tenha
dúvida. A Maré [complexo de favelas], por exemplo, nós estávamos prontos para
ocupar depois do esforço do Exército. Eu pedi determinadas obras físicas na
Maré e elas não foram feitas. Então não ocupei. Não dá para avançar nenhum
processo desses sem a devida proteção ao policial. Como fazer polícia de
proximidade assim? [...].
O que o governo federal deveria fazer na segurança pública nacional?
-O governo federal não aborda as
questões constitucionais. Não presta atenção no ciclo completo da segurança
publica. Deveria criar uma política nacional de segurança muito enxuta,
transparente, prática e mensurável. E começar pela criação nacional de divisões
de homicídios equipadas e por um eficiente serviço de perícia. O plano nacional
de segurança é hoje um calhamaço cheio de palavra subjetivas onde tudo é
interpretado pelo lado semântico, do jeito que se quer. É preciso ter uma
espinha dorsal com cinco ou seis coisas primordiais. [...].
Quais são seus planos futuros?
-Gostaria de novos horizontes,
outras experiências. Colaborar com a iniciativa privada. Poder contribuir para
o entendimento da realidade do Rio de Janeiro, que não é uma coisa simples e
que fora do contexto ajuda a confundir. Agora vou a Harvard e a Viena dar
palestras, por enquanto é tudo gratuito.
Vai continuar com segurança particular?
-Quando juntei meus cacos para ir
embora, percebi que havia 51 ameaças de morte e resolvi manter a segurança.
São os mesmos nove seguranças de agora?
-Aí já é uma pergunta
estratégica, não é? Se eu disser nove, os caras virão me matar com 20. Se eu
disser 20, virão 30. Leia
na íntegra