*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Entrevista com José Mariano Beltrame

José Mariano Beltrame  (foto) pediu ao governo Temer para ser adido da Polícia Federal em Portugal ou no Uruguai. Chances altíssimasLauro Jardim/O Globo

José Mariano Beltrame, o gaúcho que entregou o espinhoso cargo de secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro após um recorde de quase dez anos, diz que seu substituto, o delegado Roberto Sá, não foi apenas uma escolha pessoal sua. “Foi fabricado e produzido por mim e tem tudo para ser melhor do que eu”, afirma, em entrevista a ÉPOCA. “Está mais descansado.” O criador das UPPs defende seu projeto de todas as críticas e atribui o enfraquecimento da pacificação a omissões do Estado. Abaixo o blog selecionou trechos desta entrevista:
   
O tiroteio na favela do Pavão-Pavãozinho em Copacabana e a queda de um bandido da encosta de um morro, na segunda-feira (10), foram a gota d’água para sua saída?
-Absolutamente não. A UPP, na verdade, desafiou o Estado brasileiro, desafiou o município e a sociedade, desafiou o governo federal. O dever da segurança era de todos. Para dar um exemplo: na segunda-feira, no Pavãozinho, havia lá um cidadão que, em 2009, deu um tiro no Fernando Veloso [chefe da Polícia Civil que entregou o cargo um dia depois do Beltrame] com uma “ponto 30” [metralhadora semiautomática] e foi preso. Esse cidadão saiu em maio num indulto para aproveitar o Dia das Mães e nós ficamos cinco meses atrás dele. E segunda-feira nos encontramos e aconteceu o que aconteceu. Eu te pergunto: isso é problema da UPP? É problema da Polícia Civil? O problema são instituições que deveriam assumir o “dever e fazer” do Estado, mas não assumiram. O que me deixa agora meio assustado é ver ressurgir a velha retórica de se buscar um culpado. E aí é assim: “Atira na Geni, na PM, que cola”. Mas a PM ficou oito anos desafiando o Estado e nada aconteceu. [...].
Em que momento o projeto das UPPs começou a fazer água? Faltou dinheiro, vontade política ou ambos?
-Faltaram ambos, não tenha dúvida. A Maré [complexo de favelas], por exemplo, nós estávamos prontos para ocupar depois do esforço do Exército. Eu pedi determinadas obras físicas na Maré e elas não foram feitas. Então não ocupei. Não dá para avançar nenhum processo desses sem a devida proteção ao policial. Como fazer polícia de proximidade assim? [...].
O que o governo federal deveria fazer na segurança pública nacional?
-O governo federal não aborda as questões constitucionais. Não presta atenção no ciclo completo da segurança publica. Deveria criar uma política nacional de segurança muito enxuta, transparente, prática e mensurável. E começar pela criação nacional de divisões de homicídios equipadas e por um eficiente serviço de perícia. O plano nacional de segurança é hoje um calhamaço cheio de palavra subjetivas onde tudo é interpretado pelo lado semântico, do jeito que se quer. É preciso ter uma espinha dorsal com cinco ou seis coisas primordiais. [...].
Quais são seus planos futuros?
-Gostaria de novos horizontes, outras experiências. Colaborar com a iniciativa privada. Poder contribuir para o entendimento da realidade do Rio de Janeiro, que não é uma coisa simples e que fora do contexto ajuda a confundir. Agora vou a Harvard e a Viena dar palestras, por enquanto é tudo gratuito.
Vai continuar com segurança particular?
-Quando juntei meus cacos para ir embora, percebi que havia 51 ameaças de morte e resolvi manter a segurança.
São os mesmos nove seguranças de agora?
-Aí já é uma pergunta estratégica, não é? Se eu disser nove, os caras virão me matar com 20. Se eu disser 20, virão 30. Leia na íntegra