Li com interesse a entrevista de Jason
Brennan nesta Folha [jornal Folha de São Paulo]. Motivo duplo. Primeiro,
porque escrevi sobre o seu "Against Democracy" (contra a democracia)
menos de dois meses atrás. E, segundo, porque não é todos os dias que
encontramos um cientista político sério a questionar os méritos do regime
democrático.
Brennan acredita que a democracia
premia a ignorância do eleitorado. Donde, a conclusão: epistocracia. Só deveria
votar quem entende do assunto.
No livro, Brennan faz uma
analogia – para mim, absurda – entre votar e dirigir um carro. Só podemos
dirigir se tivermos licença. Em política, e uma vez cumprida a maioridade,
todos podem votar. Faz sentido? Não faz, diz ele. Más escolhas democráticas
provocam mais danos na vida de todos do que a incompetência rodoviária de
alguns.
Não compro a tese. A política não
é uma "ciência", ao contrário do que pensam os "cientistas
políticos" (ridícula expressão); e pessoas politicamente analfabetas podem
saber com lucidez aquilo que desejam para as suas vidas, mesmo que desconheçam
macroeconomia ou sistemas eleitorais.
Além disso, e para retomarmos a
metáfora do autor, pessoas com licença para dirigir continuam a provocar
acidentes. Os sábios também falham. Quando o assunto é política, os sábios
falham ainda mais. [...].
Hoje, as nossas democracias não
são, ao contrário do que Jason Brennan acredita, regimes de "vontade
geral" (para usar a sinistra expressão de Rousseau), em que as escolhas do
povo são totais –e totalitárias.
Em qualquer democracia liberal civilizada,
existem "elementos aristocráticos" (e epistocráticos) que
complementam (e, claro, limitam) a mera vontade popular. Para ficarmos nos
Estados Unidos, a existência de um Congresso bicameral ou de uma Suprema Corte
são os melhores exemplos – Por João Pereira Coutinho/Folha
(*) -A pergunta no título
deste post é do blog, e mesmo após a leitura deste artigo – aliás muito
bom – continua sem resposta – Clique
aqui e leia o artigo na íntegra
Nota
de rodapé: Curiosidades sobre “epistocracia”: O Aurélio não registra
o verbete. Se você digitar “epistocracia” no Google ele informa: “Você quis
dizer: aristocracia “. Mas o
que isso tem a ver com a crônica acima? Nada.