*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Democracias podem provocar danos na vida de seus cidadãos?*

Li com interesse a entrevista de Jason Brennan nesta Folha [jornal Folha de São Paulo]. Motivo duplo. Primeiro, porque escrevi sobre o seu "Against Democracy" (contra a democracia) menos de dois meses atrás. E, segundo, porque não é todos os dias que encontramos um cientista político sério a questionar os méritos do regime democrático.
Brennan acredita que a democracia premia a ignorância do eleitorado. Donde, a conclusão: epistocracia. Só deveria votar quem entende do assunto.
No livro, Brennan faz uma analogia – para mim, absurda – entre votar e dirigir um carro. Só podemos dirigir se tivermos licença. Em política, e uma vez cumprida a maioridade, todos podem votar. Faz sentido? Não faz, diz ele. Más escolhas democráticas provocam mais danos na vida de todos do que a incompetência rodoviária de alguns.
Não compro a tese. A política não é uma "ciência", ao contrário do que pensam os "cientistas políticos" (ridícula expressão); e pessoas politicamente analfabetas podem saber com lucidez aquilo que desejam para as suas vidas, mesmo que desconheçam macroeconomia ou sistemas eleitorais.
Além disso, e para retomarmos a metáfora do autor, pessoas com licença para dirigir continuam a provocar acidentes. Os sábios também falham. Quando o assunto é política, os sábios falham ainda mais. [...].
Hoje, as nossas democracias não são, ao contrário do que Jason Brennan acredita, regimes de "vontade geral" (para usar a sinistra expressão de Rousseau), em que as escolhas do povo são totais –e totalitárias.
Em qualquer democracia liberal civilizada, existem "elementos aristocráticos" (e epistocráticos) que complementam (e, claro, limitam) a mera vontade popular. Para ficarmos nos Estados Unidos, a existência de um Congresso bicameral ou de uma Suprema Corte são os melhores exemplos – Por João Pereira Coutinho/Folha
(*) -A pergunta no título deste post é do blog, e mesmo após a leitura deste artigo – aliás muito bom – continua sem resposta – Clique aqui e leia o artigo na íntegra

Nota de rodapé: Curiosidades sobre “epistocracia”: O Aurélio não registra o verbete. Se você digitar “epistocracia” no Google ele informa: “Você quis dizer: aristocracia “. Mas o que isso tem a ver com a crônica acima? Nada.