Dizem que futebol, política e religião
não se discute. Na minha opinião é um conceito ilusório, por que todos
nós discutimos futebol, política e religião, e a vida seria muito triste sem
uma boa discussão entre amigos, de preferência numa mesa de bar... A ilusão
substitui a realidade por um pensamento abstrato. Uma ideia que fica limitada
pela imaginação definida por uma palavra antiga, do tempo das valsas de Carlos
Galhardo, Francisco Alves, Orlando Silva e Sílvio Caldas: "Devaneio". [...].
A morte de Fidel Castro
ressuscita uma ilusão coletiva de uma geração (ou duas gerações
latino-americanas?). A minha, por exemplo. É inegável a sua projeção do
falecido nos anos 1950/1960, pela coragem de enfrentar uma poderosa ditadura
que paradoxalmente contava com o apoio da máfia ítalo-americana, do governo dos
EUA e do movimento comunista internacional. Na época, Cuba era conhecida como
"o cabaré das américas". Jogo, prostituição, lavagem de dinheiro,
fábrica de documentação falsa e livre trânsito para toda espécie de narcótico
eram a marca registrada de um regime corrupto.
Uma varredura sobre esse lixão de
costumes e comportamentos seria aplaudida por todos os jovens sonhadores
daquela época, tal e qual temos no Brasil de hoje a Lava Jato fazendo uma
faxina para nos livrar dos bandidos que institucionalizaram a corrupção no
País.
É uma pena que lá, na heroica
Cuba de Jose Marti a revolução fidelista não tenha passado de uma grande
ilusão, primeiro, por se despir do humanismo ao estabelecer o
"paredón" e fuzilar a torto e direito, misturando mafiosos,
capitalistas, políticos, religiosos e até homossexuais, somente por serem
homossexuais.
E assistimos uma brutal agressão
à liberdade, impondo uma ditadura que já dura 60 anos. Democracia lá é só um
nome escrito nos muros. E, para dizer que não falei de flores, um mérito que a
disciplina ditatorial estabeleceu: a educação e os serviços de saúde públicos
de qualidade.
Se isto sobrepesar na biografia
de Fidel, retiramos 25% dos terríveis males atribuídos a ele, supressão da
liberdade, baixo padrão de vida, estado policialesco e atraso de 50 anos na
economia e no avanço tecnológico da Ilha. Restam, assim, 75% de ilusão!
Recebido, por email do blog de Miranda
Sá