O novo capítulo da disputa entre os
poderes é a face mais vísivel da crise que hoje esvazia e tira o brilho
das iniciativas que partem de Brasília. Mas não é sua causa - e sim
consequência. O que continua convulsionando o mundo político é a megadelação da
Odebrecht, investigação da Polícia Federal agora nas mãos do Ministério Público
e do Judiciário - exatamente os alvos preferenciais dos projetos de abuso de
autoridade.
A delação começou acertando
ninguém mais, ninguém menos do que o próprio presidente Michel Temer e seus
auxiliares diretos, bem como a alta cúpula de seu partido, o PMDB. Mas atingirá
o PSDB - sabe-se que há anexos sobre os anos FHC. E voltará com carga total aos
governos petistas de Lula e Dilma. Estão na lista duas centenas de deputados,
senadores, governadores, prefeitos e vereadores de quase todas as legendas,
além de gestores da Esplanada dos Ministérios, empresas públicas e autarquias.
Assim como no início da
Lava-Jato, em 2014, os delatores calaram o governo Dilma, que negava a
existência do petrolão, ao começar a devolver os milhões roubados da estatal,
agora não há argumento que possa se contrapor às provas do fluxo bilionário
registrado nas planilhas do setor de operações estruturadas da Odebrecht. Uma
fortuna paga a agentes públicos e seus intermediários durante anos, detalhada
por Emílio e Marcelo Odebrecht e seus muitos executivos.
No caixa 1 ou 2, no Brasil ou no
exterior - não importa. O que importa é a origem do dinheiro - fruto de
superfaturamento nas várias obras públicas obtidas pela maior empreiteira do
país. Ou alguém acha que ela retiraria a propina de seu próprio caixa? E parece
que nada escapa: nem, supostamente, o submarino nuclear, que o Brasil ainda não
possui. Mas por cujo estaleiro e base naval a Marinha já pagou à Odebrecht, de
2012 até hoje, R$ 3,7 bilhões do Tesouro Nacional. Trechos da crônica
“Anticlímax em Brasília” por MARA BERGAMASCHI do blog ANDORINHA SEM FIO