*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

“Doria Gray e as leis do poder”

Quarenta e oito estratégias detalhadas e intencionais, elaboradas com muita habilidade e perspicácia visando obter - e manter - o poder. Os escrúpulos são item opcionalComentário sobre o livro “As 48 Leis do Poder” de Robert Greene, no site getAbstract especializado em resumir livros e relatórios sobre Economia e Negócios.

Faça os outros trabalharem por você, mas sempre fique com o crédito. Use a sabedoria, o conhecimento e o esforço físico dos outros em causa própria. Não só essa ajuda lhe economizará um tempo e uma energia valiosos, como lhe dará uma aura divina de eficiência e rapidez. No final, seus ajudantes serão esquecidos e você será lembrado. Não faça você mesmo o que os outros podem fazer por você.

Esta é a Lei 7 de um livro que se tornou obrigatório para compreender o novo prefeito de São Paulo, João Doria. Há mais 47 mandamentos desta estirpe. A leitura pode ajudar seus eleitores a entender o homem a quem deram o poder de comandar a maior cidade do Brasil e a população a compreender esse tipo ascendente de político- e ascendente não só no Brasil, mas no mundo, como a vitória de Donald Trump demonstrou - que se anuncia como não político.[...].

É comum políticos citarem frases e autores ao tomar posse de seus cargos públicos. Sempre dá “um lustro”. Mas como escolher, entre toda a literatura mundial de ficção e não ficção, o conhecimento impresso através dos séculos, qual é o livro e o autor que merecem ser eleitos tanto para representar a apoteose pessoal de cada um como para ilustrar o momento histórico diante das câmeras? [...].

É mais do que significativa a escolha de Doria, que pelo seu comportamento parece acreditar ser uma versão atual de “Príncipe”, de citar um autor que já foi chamado de “o novo Maquiavel”, assim como um best-seller internacional. E também é significativo que o faça olhando para seu padrinho, o governador Geraldo Alckmin que, como diz o afilhado, “gosta de boas citações”.

Ninguém pense que Robert Greene e suas 48 leis dos poder são apenas uma reciclagem mal ajambrada de clássicos do ramo, como o “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel (1649-1527), ou “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu (séc IV a.C)... O livro citado pelo prefeito de uma das maiores cidades do mundo já foi definido como a “Bíblia dos Psicopatas”. Mas, quando lhe acusam de estar promovendo o pior, Robert Greene se limita a dizer: “Eu não sou mau, sou apenas realista”. Logo, quem o critica é um tolo, porque não percebe o mundo real – ou um dissimulado, porque finge não percebê-lo. Ser escroto, neste caso, é convertido num ato de honestidade. Ainda que as pessoas não precisem ficar sabendo, como alerta a Lei 3: “Envolva-as em bastante fumaça e, quando elas perceberem as suas intenções, será tarde demais”. ELIANE BRUM/EL PAÍSLeia na íntegra