“Jornalismo é
publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”
George Orwell
Impor um
presidente negro a um país ainda hoje tão racista como
são os Estados Unidos - este o maior feito de Barack Obama. Impor-se ao
respeito inabalado de todo esse país durante os oito anos na presidência - este
o segundo maior feito de Barack Obama. O revertério que leva um primata
patético a sucedê-lo sugere a dimensão gigantesca daqueles feitos.
O primeiro êxito
e a decência cativante de Obama fizeram esperar-se dele mais do que fez. Ou, no
mínimo, o principal dos seus compromissos de candidato: a retirada americana
das áreas de guerra, a redução da presença militar dos EUA no mundo, o fim do
crime imoral que é a prisão de Guantánamo, apesar de sem importância na opinião
dos americanos, mas humilhante para o mundo que, acovardado, o testemunha.
[...].
Do mesmo lote de
compromissos principais do candidato, Obama fez três grandes realizações. Duas
notórias: a economia em colapso foi oxigenada, com efeitos sociais ainda em
progressão; e a persistente batalha que conseguiu vergar o Congresso para
implantar um sistema público de saúde, o Obamacare já sob as picaretas dos
republicanos.
A terceira foi a
ação contra o racismo. Antecessor de Kennedy, o general Eisenhower usou contra
o racismo agressivo a Guarda Nacional. Kennedy, como em quase tudo, dividiu-se
entre a força e a demagogia.
Obama teve a
inteligência e a originalidade de usar uma das armas mais raras entre os ditos civilizados:
a naturalidade. Assim como para eleger-se não fez do racismo um tema de
combate, na Casa Branca dirigiu-lhe poucas palavras: enfrentou-o com o seu dia
a dia, com sua cara. Com a simbiose Barack-Michelle. Conscientizada ou não, a
evidência penetrou fundo no país: nenhuma diferença entre brancos e negros.
O racismo não se
extinguiu, talvez nem tenha se retraído em porção significativa, a Ku Klux Klan
é sempre uma das bandeiras nacionais. Mas o antirracismo viveu dias gloriosos,
para um futuro em que será difícil retrocedê-lo.
Mas um legado
especial Barack Obama leva amanhã consigo: Michelle Obama, imagem consagrada,
oradora brilhante, opinião e firmeza, potencial presidente dos Estados
Unidos. Trechos do artigo “Sob Obama, o
antirracismo viveu dias gloriosos” de Jânio de Freitas/Folha – Leia
na íntegra
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