Precocemente
envelhecida, a democracia brasileira vive uma situação
pra lá de paradoxal: nem bem teve tempo de aprimorar os mecanismos necessários
para acompanhar a evolução contínua da sociedade e já apresenta sinais de
fadiga crônica e terminal. Na raiz do problema está a absoluta dissociação
entre o Estado leviatã e a sociedade, vista aqui apenas no seu aspecto de
provedora de um sistema perpetuamente desigual e injusto. Num modelo como esse,
não há a menor possibilidade de um funcionamento longevo e harmonioso entre o
governo e os cidadãos.
O que existe, de
fato, é um alto muro separando os Três Poderes do restante dos brasileiros. De
outra forma, como explicar para um contingente de 13 milhões de desempregados
que desembargadores de estados pobres da União recebem mensalmente dos cofres
públicos salários que ultrapassam os R$ 300 mil e ainda têm assegurado outras
vantagens como auxílio-moradia, plano de saúde e sabe-se lá o que mais?
Que exercício
fazer para que um cidadão aceite com tranquilidade o fato de que até seu
representante no parlamento foi eleito graças aos muitos milhões de reais
desviados criminosamente das empresas públicas? Como explicar, ainda, que
membros do governo, além dos altos salários, contam com um reforço na forma de
um cartão corporativo que tudo compra, de tapioca na esquina a préstimos e
favores de todo gênero? [...].
A violência é,
talvez, a face mais vistosa de uma sociedade entregue à própria sorte,
desamparada e à mercê da criminalidade crescente que medra desde os becos
escuros das periferias insalubres até os palácios atapetados e iluminados com
candelabros de cristal. Bastou a decretação de uma greve ilegal da Polícia
Militar do Espírito Santo para que, em menos de uma semana, 140 pessoas fossem
barbaramente mortas, obrigando a população a se refugiar em casa. Afirmar que
está tudo dominado já não é apenas força de expressão, mas uma realidade presente
e perigosa - Blog do Ari
Cunha/Correio Braziliense
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