Houve um tempo, e eu sou testemunha ocular disso, em que as notícias circulavam de
manhã e à tarde, e essas duas doses diárias bastavam para manter qualquer
cidadão bem informado. A manchete do dia, que não raro era a mesma em toda a
imprensa - exceção feita aos jornais populares, que viviam de crimes - era
suficiente para alimentar 24 horas de conversas. E nem era preciso comprar os
jornais para acompanhá-las: eles ficavam pendurados nas laterais das bancas,
presos por pregadores de roupa de madeira, e atraíam os transeuntes, que
paravam para se atualizar antes de entrar no trabalho, ou numa folga na hora do
almoço...
O mundo era
pequeno. Ninguém se interessava por escândalos na Coreia do Sul, implosões de
edifícios na China ou assassinatos na Islândia. Por incrível que pareça, era
perfeitamente possível sobreviver sem saber, em tempo real, que um filhote de
tamanduá foi adotado por cães na Namíbia, ou que um crocodilo invadiu o carro
de turistas na Flórida. Ninguém se achava mal informado ao descobrir, com um
mês de atraso, que uma cadelinha sobreviveu na Escócia depois de engolir uma
faca de cozinha...
Tenho saudades
daqueles tempos. Hoje estamos nos afogando em notícias e não notícias. Não
conseguimos mais nos afastar dos nossos celulares, que funcionam como agências
noticiosas em tempo integral. O jornal virou um camaleão digital, que muda de
acordo com os últimos acontecimentos, ainda que a sua versão impressa continue
sendo a melhor companhia no café da manhã. Não sei se isso está nos tornando
melhores ou piores, mas tenho certeza de que estamos todos infinitamente mais
estressados, assim como tenho certeza de que esse é um caminho sem volta. Não
há mais para onde correr — e, ainda que houvesse, não correríamos. Viramos
todos news junkies, viciados em notícias. Cora Rónai/O Globo – Leia
na íntegra
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