*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sábado, 18 de fevereiro de 2017

“Perderam o timing para matar a jararaca”

A jararaca não morreu, nem sequer ficou desacordada. E se ela não se recolheu após a morte da primeira-dama do PT, podem desistir de imaginar que ela vai se recolher por respeito ao Brasil. Não vai não. A única coisa que talvez deixe a jararaca imobilizada para sempre será a quebra do sigilo das delações da Odebrecht, a oportunidade de ouro para que os brasileiros, desmemoriados, lembrem-se que o contexto falimentar em que nossos Estados estão, além dos mais de 12 milhões de desempregados, são fruto dos 13 anos do PT no Palácio do Planaltopor Maria Helena Rubinato/Blog do Noblat/O Globo

O establishment foi dormir preocupado esta noite. A última rodada da pesquisa CNT/MDA confirmou o que muita gente já desconfiava: não mataram a jararaca. Ao contrário: nos últimos 120 dias, o ex-presidente Lula, que já exibia em outubro surpreendente resiliência diante de tanta pancadaria, ficando à frente nas simulações de primeiro turno da disputa presidencial de 2018, cresceu mais um pouco. Agora, Lula se elegeria presidente em todos os cenários, inclusive os de segundo turno contra Aécio Neves e Marina Silva.É sempre bom repetir a óbvia e usual ressalva: pesquisa é retrato do momento e, a vinte meses da eleição, não quer dizer grande coisa a não ser o recall dos personagens citados. Só que, no caso específico, não é bem assim. A essa altura do campeonato, o levantamento presidencial da CNT/MDA tem peso político e impacto imediato.

É sempre bom repetir a óbvia e usual ressalva: pesquisa é retrato do momento e, a vinte meses da eleição, não quer dizer grande coisa a não ser o recall dos personagens citados. Só que, no caso específico, não é bem assim. A essa altura do campeonato, o levantamento presidencial da CNT/MDA tem peso político e impacto imediato.

No curto prazo, o primeiro efeito será acirrar o ambiente e o tiroteio em cima de Lula e do PT. É de se prever que haverá novas  denúncias, acolhimento de denúncias e, em breve, uma condenação do ex-presidente pelos juízes Sérgio Moro ou Vallisney Oliveira. A quebra do sigilo das delações da Odebrecht, por exemplo, será uma oportunidade para trazer de novo à baila o nome de Lula. [...].

Liderando a corrida presidencial, Lula e seus aliados reforçam o discurso da perseguição política e ganham melhores condições para provocar alguma reação de seu eleitorado nas ruas - hipótese que assusta o governo e outras instituições. A narrativa vale também para uma bem provável tentativa de tornar o ex-presidente inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa. Tudo isso - as duas condenações e os recursos a que ele tem direito - teria que correr no prazo máximo de um ano, mais ou menos até os primeiros meses de 2018, para evitar a acusação de casuísmo aos algozes de Lula.

Ao mesmo tempo, assim como, nas palavras de um delegado da Lava Jato, os condutores da operação teriam perdido o "timing" para prender Lula há quase um ano, é possível que o pessoal de Curitiba, de São Paulo e de Brasília também tenha perdido o "timing" para matar politicamente a jararaca. [...].

Juntando-se ao imbroglio lavajatiano os índices ruins de aprovação do governo Temer, que a CNT/MDA confirmou terem piorado, o desemprego que não cede e o ritmo quase imperceptível da recuperação econômica, e tem-se quase uma receita de campanha para Lula. Não seria preciso nem adicionar ingredientes como as reformas da Previdência e da legislação trabalhista, indispensáveis para a economia mas também terrivelmente impopulares.

Não deveria ser, portanto, uma enorme surpresa a contatação de que a jararaca está viva e pode dar um novo bote - sem que isso garanta a eleição de Lula em 2018, que vai depender das muitas águas que ainda vão rolar até lá.

Mas, se esses políticos olhassem menos para os próprios umbigos, e estivessem menos ocupados com suas preocupações em se blindar da Lava Jato, poderiam estar nas ruas identificando o óbvio. É aquele sentimento detectado por uma outra pesquisa, do Instituto Ideia, publicada no jornal Valor: "a saudade de Lula", que começa a bater e tende a aumentar sobretudo naquelas faixas que saíram da linha da pobreza nos anos PT. Foram mais de 20 milhões de pessoas, que infelizmente parecem estar fazendo o caminho de volta na velocidade da crise. Em quem os novos pobres vão votar em 2018? - Helena Chagas/O GloboLeia na íntegra

Nenhum comentário:

Postar um comentário