“A jararaca não morreu, nem sequer ficou desacordada. E
se ela não se recolheu após a morte da primeira-dama do PT, podem desistir de
imaginar que ela vai se recolher por respeito ao Brasil. Não vai não. A única
coisa que talvez deixe a jararaca imobilizada para sempre será a quebra do
sigilo das delações da Odebrecht, a oportunidade de ouro para que os
brasileiros, desmemoriados, lembrem-se que o contexto falimentar em que nossos
Estados estão, além dos mais de 12 milhões de desempregados, são fruto dos 13 anos
do PT no Palácio do Planalto” por Maria Helena
Rubinato/Blog do Noblat/O Globo
O establishment
foi dormir preocupado esta noite. A última rodada da
pesquisa CNT/MDA confirmou o que muita gente já desconfiava: não mataram a
jararaca. Ao contrário: nos últimos 120 dias, o ex-presidente Lula, que já
exibia em outubro surpreendente resiliência diante de tanta pancadaria, ficando
à frente nas simulações de primeiro turno da disputa presidencial de 2018,
cresceu mais um pouco. Agora, Lula se elegeria presidente em todos os cenários,
inclusive os de segundo turno contra Aécio Neves e Marina Silva.É sempre bom
repetir a óbvia e usual ressalva: pesquisa é retrato do momento e, a vinte
meses da eleição, não quer dizer grande coisa a não ser o recall dos
personagens citados. Só que, no caso específico, não é bem assim. A essa altura
do campeonato, o levantamento presidencial da CNT/MDA tem peso político e
impacto imediato.
É sempre bom
repetir a óbvia e usual ressalva: pesquisa é retrato do momento e, a vinte
meses da eleição, não quer dizer grande coisa a não ser o recall dos
personagens citados. Só que, no caso específico, não é bem assim. A essa altura
do campeonato, o levantamento presidencial da CNT/MDA tem peso político e
impacto imediato.
No curto prazo,
o primeiro efeito será acirrar o ambiente e o tiroteio em cima de Lula e do PT.
É de se prever que haverá novas denúncias, acolhimento de denúncias e, em
breve, uma condenação do ex-presidente pelos juízes Sérgio Moro ou Vallisney
Oliveira. A quebra do sigilo das delações da Odebrecht, por exemplo, será uma
oportunidade para trazer de novo à baila o nome de Lula. [...].
Liderando a corrida
presidencial, Lula e seus aliados reforçam o discurso da perseguição política e
ganham melhores condições para provocar alguma reação de seu eleitorado nas
ruas - hipótese que assusta o governo e outras instituições. A narrativa vale
também para uma bem provável tentativa de tornar o ex-presidente inelegível,
segundo a Lei da Ficha Limpa. Tudo isso - as duas condenações e os recursos a
que ele tem direito - teria que correr no prazo máximo de um ano, mais ou menos
até os primeiros meses de 2018, para evitar a acusação de casuísmo aos algozes
de Lula.
Ao mesmo tempo,
assim como, nas palavras de um delegado da Lava Jato, os condutores da operação
teriam perdido o "timing" para prender Lula há quase um ano, é
possível que o pessoal de Curitiba, de São Paulo e de Brasília também tenha
perdido o "timing" para matar politicamente a jararaca. [...].
Juntando-se ao
imbroglio lavajatiano os índices ruins de aprovação do governo Temer, que a
CNT/MDA confirmou terem piorado, o desemprego que não cede e o ritmo quase
imperceptível da recuperação econômica, e tem-se quase uma receita de campanha
para Lula. Não seria preciso nem adicionar ingredientes como as reformas da
Previdência e da legislação trabalhista, indispensáveis para a economia mas
também terrivelmente impopulares.
Não deveria ser,
portanto, uma enorme surpresa a contatação de que a jararaca está viva e pode
dar um novo bote - sem que isso garanta a eleição de Lula em 2018, que vai
depender das muitas águas que ainda vão rolar até lá.
Mas, se esses
políticos olhassem menos para os próprios umbigos, e estivessem menos ocupados
com suas preocupações em se blindar da Lava Jato, poderiam estar nas ruas
identificando o óbvio. É aquele sentimento detectado por uma outra pesquisa, do
Instituto Ideia, publicada no jornal Valor: "a saudade de Lula", que
começa a bater e tende a aumentar sobretudo naquelas faixas que saíram da linha
da pobreza nos anos PT. Foram mais de 20 milhões de pessoas, que infelizmente
parecem estar fazendo o caminho de volta na velocidade da crise. Em quem os
novos pobres vão votar em 2018? - Helena Chagas/O Globo – Leia
na íntegra
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