A Lava Jato colocou pela primeira vez na mira não apenas políticos com nome e
sobrenome, mas todo um partido, o PP (Partido Progressista), acusado de
improbidade administrativa, pedindo a devolução para os cofres de Estado de 2
bilhões de reais. É uma novidade na guerra contra a corrupção. Isso, junto com a
condenação do ex-presidente do Congresso Eduardo Cunha a 15 anos de prisão,
tudo no mesmo dia, revela que a Lava Jato não demonstra sentir medo frente às
possíveis manobras que, contra ela, parecem estar tramando no Congresso com o
debate sobre uma lei de responsabilidade que, aprovada nesse momento e às
pressas, pode ser vista como uma tentativa de amarrar as mãos dos juízes em sua
luta contra a corrupção. A decisão de pedir a condenação de todo um partido e
de 10 de seus líderes políticos significa que o juiz Moro e sua equipe avançam
de verdade e que o resultado final de suas investigações ainda é difícil de
adivinhar...
Aqueles que já
criam hipóteses de que a prisão de Cunha e o primeiro pedido de condenação de
um partido são apenas os entreatos do grande objetivo de chegar a Lula e seu
partido, o PT, como responsável máximo da trama de corrupção, se perguntam até
onde quer chegar a Lava Jato...
O promotor Deltan Dallagnol se antecipou ao
afirmar que não pretendem “paralisar a ação política”, mas “agarrar os
corruptos pelo bolso”. Isso em teoria, porque na prática, poderia levar à
dissolução de algumas forças políticas como ocorreu na Itália nos anos 90 com a
Operação Mãos Limpas. Decapitados os partidos de seus maiores líderes, para os
quais é pedida a perda de cargos e direitos políticos, e com a obrigação de
devolver esses valores colossais como multa, para muitos poderia significar um
golpe mortal.
Mas a frase de
Dallagnol de que a Lava Jato pretende “agarrar os corruptos políticos pelo
bolso” terá um forte eco na opinião pública. É só olhar as redes sociais para
observar que o mantra das pessoas nas ruas é “que devolvam o que foi roubado”.
E isso inclui os políticos como pessoas e os partidos como organizadores. O
mínimo que se pode dizer é que a Lava Jato, que sabe que conta com o capital do
forte apoio da sociedade na luta contra a corrupção, quis marcar seu território
na guerra já nem dissimulada, entre a justiça e uma classe política que é vista
como encurralada e no banco dos réus - Juan Arias/El País – Leia
na íntegra
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