"Não existia
ninguém no Palácio do Planalto que não soubesse que se tratava de um projeto de
enriquecimento ilícito por meio de uma estrutura maluca... Não era um governo,
era um negócio” Jerônimo
Goergen, deputado pelo PP do Rio Grande do Sul, ao site Antagonista, na sexta
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Ao longo do
processo de impeachment, os defensores da ex-presidente
Dilma Rousseff afirmavam que era tudo uma injustiça. “Ela é honesta”, diziam.
“Não há uma única prova de que tenha se corrompido ou tomado parte no esquema
da Petrobras.” Dilma caiu por fraudes contábeis, não por corrupção ou caixa
dois.
A imprensa
internacional fez questão de enfatizar que a condenação se dera “on flimsy
grounds” (sobre bases frágeis), influenciada por um escândalo de corrupção no
qual não havia nenhuma prova de participação dela. Dilma saiu recentemente em
viagem ao exterior proclamando sua inocência, sua honestidade e alegando ter
sido vítima de um golpe – mas só conseguiu provar que não sabe falar francês.
Não se sabe
exatamente que sentido as palavras adquirem quando traduzidas para outro
idioma, seja francês, inglês, lituano, urdu ou reto-romano. Em português,
contudo, o envolvimento de Dilma estava claro desde que a Polícia Federal
apreendeu o iPhone de Marcelo Odebrecht. Entre a profusão de anotações
crípticas no aparelho, que exigiram das autoridades meses de trabalho das
autoridades para ser decifradas, uma se destacava pela clareza: “dizer do risco cta suíça chegar campanha
dela?”.
Para quem ainda
tinha alguma dúvida sobre o papel de Dilma no escândalo, o depoimento de
Marcelo no processo contra a chapa Dilma/Temer no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), cujos trechos foram revelados ontem pelo site O Antagonista, não
deixa mais nenhuma possibilidade para ambiguidade. Marcelo, aquele mesmo que
não ia “dedurar” porque não tinha “o que dedurar”, dedurou bonito.
Para não deixar
margem para especulações, ele revelou em pelo menos três trechos a extensão do
conhecimento de Dilma. Em suas próprias palavras:
-A Dilma sabia da dimensão da nossa doação, e sabia
que nós éramos quem doá… quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa dois
para João Santana. Isso ela sabia.
–Sempre ficou evidente que ela sabia a dimensão do
nosso montante, ela sabia que a gente pagava.
–O que Dilma sabia era que a gente fazia, tinha uma
contribuição grande – a dimensão da nossa contribuição era grande, ela sabia
disso – e ela sabia que a gente era responsável por muitos pagamentos para João
Santana. Ela nunca me disse que era caixa dois, mas é natural, é só fazer uma…
ela sabia que toda aquela dimensão de pagamentos não estava na prestação do
partido.
Marcelo também
confirmou aquilo que ninguém precisava ser nenhum Champollion para saber. Nas
anotações de seu Iphone, “ela” era ela mesma, como já escrevi. “Quando chegou em 2015, quando estourou a
questão da Lava Jato, qual foi a minha primeira preocupação?”, pergunta ele
a certa altura do depoimento. Era avisar Dilma do “risco cta suiça”. Eis então
o que ele fez:
–Já com a Lava Jato, eu alertei, sim, ela de que “Olha
presidente, eu quero informar para a senhora o seguinte: eu tenho medo de que,
via questão da Lava Jato, exista uma contaminação nas contas do exterior que
foram usadas para pagamento para João Santana, então quero alertar a senhora
disso”. Eu alertei ela e vários outros assessores dela. Por
Helio Gurovitz/O Globo – LEIA
NA ÍNTEGRA
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