*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sábado, 18 de março de 2017

“Comeu e não postou? Então, não valeu”

O Whatsapp não me regula, o Messenger também não. Nem o relógio de pulso, nem a timeline dos amigos, nem o Netflix. Ainda consigo manter certa desobediência civil, só aceito ordens de mim mesma. Meu toque de recolher particular é sagrado. Quando escuto o sinal, desligo o mundo – Trecho do artigo “Toque de recolher” de Martha Medeiro/O Globo

   
Houve um tempo em que eu comia um monte de coisas e não precisava contar nada para ninguém. Não era jornalista da área de comida, nem crítico, nem entusiasta de pães. Fotografia digital era ainda uma promessa e, sem internet, eu apenas me fartava, e pronto. Se comentasse com alguém, era cara a cara. Comer era um ato social quando acontecia à mesa, ou no balcão, com pessoas de carne e osso. Não em rede. Bom, qualquer um com mais de quarenta anos sabe disso. [...].

Na civilização contemporânea, online, conectada o tempo todo, se não for registrado e postado, não aconteceu. Comeu, jantou, bebeu? Então prove. Não está na rede? Então, não vale. Do ponto de vista filosófico, parece ainda mais complicado. Há o “penso, logo existo”, de Descartes. Há a existência que precede a essência, propagada pelos existencialistas. Mas ainda mal começamos a discutir sobre o “só existo se publico”. Se não registrou a imagem nem ganhou likes, é mentira.

Não estou aqui desfiando lamúrias de dinossauro tecnológico, de tiozão da internet deslocado no ambiente virtual. Pelo contrário: interajo com muita gente e publico ativamente fotos de minhas fornadas e outras coisas mais – imaginando, vá lá, que produzo algo mais próximo do conteúdo informativo do que do exibicionismo. A vida, hoje, é digital. Contudo, presumo que algumas coisas não precisam deixar de pertencer à esfera privada. Sendo tudo tão novo nessa área, ainda engatinhamos a respeito de uma conduta, de uma doutrina, de uma etiqueta que equilibre a convivência entre câmeras, pratos, smartphones, jantares, extroversão, intimidade. Também não vou enveredar por discussões sobre o que é excessivo, ostentatório. Não sou juiz nem tampouco patrulheiro de hábitos. Quero somente pontuar que as memórias que só existem em nossa cabeça nos tocam de um jeito distinto daquelas que “eternizamos” em variados suportes. [...]. Por Luiz Américo Camargo comentarista e consultor gastronômicoConfere lá

“-Nós agora vamos passar uma cesta e recolher todos os celulares!, disse a minha amiga no sábado, quando nos reunimos na varanda debaixo de uma imensa lua cheia, depois de comer como lordes. É que alguns de nós, terminado o almoço, corremos a checar o que estava acontecendo nas nossas vidas on-line. Ela estava brincando, mas tingindo a brincadeira havia um indisfarçável tom de censura. Guardamos os aparelhos, pedimos desculpas — e imediatamente embarcamos na conversa que, hoje, é uma constante em todos os lugares: o que é o “uso normal” de um smartphone? O que é vício, o que é má educação?”  Trecho do artigo “Outro mundo” de Cora Rónai/O Globo – Leia na íntegra

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