Winston
Churchill não era flor que se cheirasse. Ou, como diria
o Millôr na lingua dele, “a flower you could smell”. Recomendou que se usasse
gás venenoso contra os curdos — como, anos depois, fez o Saddam — e era um
entusiasta da guerra química. Mas isso foi na sua juventude, quando atrocidades
contra povos exóticos não causavam tanta discussão na metrópole. Em vez de
enforcado, Churchill se transformou no grande estadista cujas atitudes e frases
ajudaram a resistir ao nazismo e inspiraram uma nação no que ele chamou de sua
melhor hora. Seus charutos, suas bochechas de bebê e, acima de tudo, sua
retórica triunfante sobreviveram a todas as lembranças de um passado não tão
glorioso e lhe garantiram uma posteridade confortável.
Mas a frase mais
famosa de Churchill não tem nada a ver com seus discursos de guerra. É aquela
em que ele afirma que a democracia é o pior sistema de governo disponível, com
exceção de todos os outros. O velho aristocrata, ele mesmo um exemplo do ideal
ciceroniano de poder de casta, dizendo que a democracia é falha, insuficiente,
irritante, confusa, difícil e provavelmente antinatural, mas ainda é melhor do
que todas as suas alternativas possíveis. Uma frase que precisa ser repetida de
tempos em tempos, principalmente em países, como o Brasil, que já
experimentaram as alternativas, mas às vezes parece que as esqueceram. Porque
aqui desesperar da democracia vai se tornando cada vez mais tentador [...].
A democracia vem
acumulando derrotas nos últimos tempos entre nós, e torna-se mais precária a
cada revelação sobre a corrupção epidêmica que parece não poupar ninguém. A
cada nova desmoralização de políticos e política, a nossa democracia apanha
mais um pouco. Há quem diga que o fato de ainda estar de pé, mesmo que só
formalmente, é um bom sinal: em outros tempos, ela já estaria na lona, e a
alternativa estaria nas ruas. Mas a surra continua. Como nas lutas de boxe em
que só um lado apanha, sem defesa, sem reação possível — e o pior, sem torcida
— não é um espetáculo bonito. Por Luis Fernando Verissimo – Enviado por Cacau Quil
- Leia a
íntegra
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