Recorte da imagem publicada na primeira página
do jornal Correio
Brasiliense de hoje
(1)
"O que temos no Brasil não
é um negócio de cinco, dez anos.
Estamos falando de 30 anos atrás".
Foi bom, Emílio
Odebrecht, que você tenha lembrado disso em sua delação premiada. Pois durante
os últimos anos o povo brasileiro teve que assistir ao espetáculo patético de
corruptos com ares de indignação cívica acusando corruptos, torcedores de corruptos
saindo às ruas para clamar contra a corrupção. Tudo isto para chegar neste
momento catártico e todos os lados da Nova República serem expostos em suas
relações incestuosas com o empresariado nacional.
O ilibado e
endeusado pela imprensa local Fernando Henrique Cardoso, o defensor dos
oprimidos Lula, o santo Alckmin, a guerrilheira Dilma, o indignado Aloysio
Nunes, seu amigo e presidente natural Serra, os operadores do PT, os operadores
do PSDB, os negociadores do PMDB, os trânsfugas da ditadura do DEM: em suma,
toda a fauna da casta política brasileira no mesmo banco dos réus.
Os mesmos que
ocupam os espaços na imprensa para pregar austeridade e destruição dos direitos
dos trabalhadores são os que pilharam os cofres públicos de forma aberta e sem
pudores. Os mesmos que exigem dos trabalhadores que trabalhem 49 anos para se
aposentar de forma integral deram ao Brasil a honra de ter 24 de seus 81
senadores como alvo de inquérito no STF.
Os mesmos que
fecham escolas e deixam apodrecer universidades sentavam à mesa fausta das
negociações e levavam para casa milhões de reais. Desde o aparecimento da
primeira ponta do iceberg do esquema do mensalão, isto nos idos de 2004, tudo
estava claro para quem quisesse ver. [...]. O mais cômico era ouvir aqueles que
tentavam diferenciar os ocupantes do poder por "intensidade" de
corrupção: "Não, mas este corrompeu muito mais". "Mas em relação
a este são só ilações, é só tentativa de jogar todo mundo na lama para
relativizar tudo".
É, meus amigos,
o Brasil conhece como ninguém o cinismo dos que sabem muito bem, mas mesmo
assim agem como se não soubessem.
Diante disto,
poucas foram as vozes que se perguntaram: mas como chegamos até aqui? De onde
veio a opacidade do Estado brasileiro e seu desprezo pela presença da soberania
popular, único esteio real contra a corrupção dos entes privados? Será que há
mesmo uma zona cinzenta de amoralidade em toda forma de governo a respeito da
qual não é possível fazer nada?
Diante da
exposição produzida pela chamada "delação do fim do mundo", só
gostaria de lembrar, como disse o filósofo francês Patrice Maniglier, que
"outro fim do mundo é possível"... Sim, que este mundo acabe o mais
rápido possível. Toda a história da Nova República só poderia acabar mesmo
nesta confissão explícita de fracasso nacional. Que este trauma nos sirva de
lição - Vladimir Safatle/Folha – Leia
na íntegra
(1) O jornal O Correio Braziliense está se especializando em
imagens de “capas”
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