“O amor da Terra é para os que suportam o Paradoxo...
Shakespeare cometeu um engano. Ser e não Ser, é a
questão.
O Paradoxo humano é um Conjunto.
Aquele que suportar viver e morrer na vida,
ser sano e insano, Deus e o Diabo,
entende o mistério da Natureza Humana”
Trecho
da colagem “Poema” - equipe do blog do Moreno/O Globo
Ricardo Pereira
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Eu não tenho
nada para dizer ao público brasileiro, mas não vale a
pena o público brasileiro começar a sentir-se especial porque a verdade é que
eu não tenho nada para dizer a ninguém. Sei quase nada sobre quase tudo – circunstância
que, felizmente, nunca impediu uma pessoa de escrever nos jornais. Por vezes,
chega a ser requisito.
Mas não adianta
fingir que temos assunto de conversa. Se o público brasileiro e eu tomássemos o
mesmo elevador, a viagem ia ser daquelas embaraçosas. "Cá estamos",
talvez eu dissesse. "É verdade", o público brasileiro responderia,
olhando para o tecto. E o resto seria silêncio.
Os leitores
brasileiros e eu temos apenas duas coisas em comum. Falamos a mesma língua
(bom, mais ou menos) e estamos vivos, pelo que não me resta alternativa senão
falar do único assunto que ambos dominamos: isto de estar vivo. O escritor
português Manuel da Fonseca disse: "Isto de estar vivo ainda um dia acaba
mal". Levei a cabo algumas pesquisas e sinto-me muito inclinado a
concordar.
Por isso, todas
as sextas-feiras escreverei aqui sobre a vida, esse caminho de dor, angústia e
desespero que culmina com a morte. Serão textos humorísticos. Só há um
problema: não sei grande coisa sobre a vida. Não li o manual do usuário. Há
muitas funcionalidades que não uso, umas vezes por desconhecimento, outras por
medo de estragar. [...].
Uma última nota:
por vezes, quando alguém se põe a pensar na vida, pode acontecer-lhe encontrar
o seu verdadeiro eu. Não se preocupem: eu não corro esse risco. Uma vez
encontrei o meu verdadeiro eu e não ficámos amigos.
Agora atravesso
para o outro passeio sempre que o vejo. Deus me livre de me dar com gente
dessa. O meu verdadeiro eu é altivo, vaidoso e feio. Se falasse espanhol, podia
ser argentino - Ricardo Araújo Pereira/Folha – Leia
na íntegra
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