A condenação do
ex-deputado Eduardo Cunha, num dos três processos a que
responde como resultado da Operação Lava Jato, fez reviver a questão: ele fará
acordo de delação premiada?
O principal
motivo para acreditar que sim é a quantidade de evidências que pesam contra
Cunha. Na ação em que o juiz Sérgio Moro o condenou a 15 anos e 4 meses de
prisão, há provas robustas de que recebeu US$ 1,5 milhão em propina por um
contrato para exploração de petróleo em Benin, na África. Depois de sair da
Petrobras, o dinheiro foi para a Compagnie Béninoise des Hydrocarbures (CBH),
passeou pelas contas de operadores, depois caiu bonitinho na conta 4548.1602 do
Banco Julius Bär, em Genebra, em nome do – adivinhem? – “trust” Orion SP.
Cunha mentiu
quanto pôde, negando ter contas na Suíça. A esta altura, porém, até as estátuas
de Calvino e dos demais reformadores que adornam o Parc des Bastions, em
Genebra, sabem que o “usufrutuário” desse tal trust Orion é um fiel protestante
chamado Eduardo Cosentino da Cunha. Não há saída jurídica para ele, a não ser o
apego de seus advogados por questiúnculas processuais, que decerto serão
derrubadas em qualquer recurso. A boa vontade da Justiça brasileira com Cunha
pode ser medida pela decisão inédita tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
no ano passado, ao suspender seu mandato por unanimidade.
Além da
condenação de ontem, Cunha ainda responde a processos sob as acusações de ter
extorquido a empresa coreana Samsung para que ela fosse contratada como
fornecedora de navios-sonda; e de improbidade administrativa por prejuízos à
Petrobras. Há pelo menos outros seis inquéritos em andamento contra ele. A
polícia investiga sua participação num esquema de corrupção na Caixa, noutro na
obra do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, e num terceiro na empresa de
energia Furnas. Também apura seu envolvimento no financiamento a políticos, na
venda de emendas parlamentares, na extorsão ao banco Schain e no favorecimento
à OAS.
Para reduzir seu
tempo no xilindró, parece não lhe restar outra saída a não ser a delação. Cunha
certamente teria muito a contar. Conhece as vísceras do PMDB e participou das
negociações mais relevantes no Congresso ao longo dos governos Lula e Dilma.
Era, antes disso, um cacique no PMDB fluminense e, desde o governo Collor,
esteve envolvido em todo tipo de escândalo. É célebre pela inteligência e pela
capacidade de reunir e usar informações sensíveis em defesa de interesses seus
ou de aliados. Por Helio Gurovitz/O Globo - Leia
na íntegra
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