No fundo, é uma
só e mesma crise. Lenta ou bruscamente, articulando
momentos de paz aparente com outros de solavancos destrutivos, ela vem
penetrando a pele e a carne da sociedade, fazendo-a sangrar.
Uma crise que
carrega no ventre diversas crises tópicas, mais localizadas, todas elas
enfeixadas em um mesmo processo e seguindo idêntico padrão. É o capitalismo e a
sociedade moderna por ele impulsionada que se reacomodam, implodindo as classes
sociais que lhes são típicas, os grupos de interesse, as instituições, o modo
de viver, pensar, agir e sentir.
Os pactos se
desfazem e a sociedade mergulha numa era em que o contrato social flutua e
parece esboroar, na falta de um soberano que o faça valer. Governos governam
pouco, o desentendimento cresce, ânimos encrespam e polarizações se acumulam
como dejetos cristalizados.
Sem esta
moldura, fica quase impossível jogar alguma luz sobre a situação política
brasileira, que é uma versão da crise geral. [...].
Se Temer cair,
por renúncia ou impedimento, o caos será um. Se permanecer, pelo tempo que for,
o caos será outro. Mas será tão somente um tipo diferente de caos. Nada poderá
melhorar a situação de Temer, que desceu a níveis difíceis de imaginar e assim
prosseguirá na medida em forem sendo liberados os detalhes da delação da JBS.
O mesmo pode ser
dito de Lula e do PT. Se o ex-presidente for preso e condenado, o que não
parece provável, a tensão será uma. Se for absolvido e ficar livre, será outra.
Nada mudará de forma significativa no plano objetivo, ainda que alguns fiquem
felizes e outros se deprimam. [...].
Não se vê que o
país não tem como avançar à base de réplicas e tréplicas de situações passadas,
numa sequência doentia de revanches e melhor de três. Tiraram o meu presidente?
Pois agora eu tiro o deles. É uma lógica burra, paralisante, que nada
acrescenta de substantivo, alimenta a crise e leva ao paroxismo fórmulas que
não deram certo. - Marco Aurélio Nogueira/Estadão – Leia
na íntegra
Nenhum comentário:
Postar um comentário