*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sábado, 20 de maio de 2017

A outra volta do parafuso

No fundo, é uma só e mesma crise. Lenta ou bruscamente, articulando momentos de paz aparente com outros de solavancos destrutivos, ela vem penetrando a pele e a carne da sociedade, fazendo-a sangrar.

Uma crise que carrega no ventre diversas crises tópicas, mais localizadas, todas elas enfeixadas em um mesmo processo e seguindo idêntico padrão. É o capitalismo e a sociedade moderna por ele impulsionada que se reacomodam, implodindo as classes sociais que lhes são típicas, os grupos de interesse, as instituições, o modo de viver, pensar, agir e sentir.

Os pactos se desfazem e a sociedade mergulha numa era em que o contrato social flutua e parece esboroar, na falta de um soberano que o faça valer. Governos governam pouco, o desentendimento cresce, ânimos encrespam e polarizações se acumulam como dejetos cristalizados.
Sem esta moldura, fica quase impossível jogar alguma luz sobre a situação política brasileira, que é uma versão da crise geral. [...].

Se Temer cair, por renúncia ou impedimento, o caos será um. Se permanecer, pelo tempo que for, o caos será outro. Mas será tão somente um tipo diferente de caos. Nada poderá melhorar a situação de Temer, que desceu a níveis difíceis de imaginar e assim prosseguirá na medida em forem sendo liberados os detalhes da delação da JBS.

O mesmo pode ser dito de Lula e do PT. Se o ex-presidente for preso e condenado, o que não parece provável, a tensão será uma. Se for absolvido e ficar livre, será outra. Nada mudará de forma significativa no plano objetivo, ainda que alguns fiquem felizes e outros se deprimam. [...].

Não se vê que o país não tem como avançar à base de réplicas e tréplicas de situações passadas, numa sequência doentia de revanches e melhor de três. Tiraram o meu presidente? Pois agora eu tiro o deles. É uma lógica burra, paralisante, que nada acrescenta de substantivo, alimenta a crise e leva ao paroxismo fórmulas que não deram certo. - Marco Aurélio Nogueira/EstadãoLeia na íntegra

Nenhum comentário:

Postar um comentário