*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sexta-feira, 19 de maio de 2017

O fim da impunidade tributária?

Toda lei penal segue um ciclo, que se fecha perfeitamente quando, depois de aplicada, resulta em punição. Faz parte do processo civilizatório de qualquer sociedade que seus cidadãos temam as leis, pois que não pretendem sentir seu peso, muitas vezes esmagador.

Na atual quadra do Brasil, quando o espetáculo da Operação Lava Jato mostra que uma das razões da institucionalização da corrupção foi por sumir a vergonha de corromper e de ser corrompido, é perceptível que todos os envolvidos sapatearam sobre as punições pelo fato de que, entre eles, havia a certeza de jamais serem alcançados. E por ainda se enxergarem acima do bem e do mal, a dúvida geral é se a colaboração premiada que vem fazendo o esgoto jorrar sem parar serve para abrandar duríssimas penas em troca de cabeças em bandeja de lata.

Isso pode nos levar ao extremo oposto: do primado da bandalheira com punição zero ao primado da bandalheira com punição de mentirinha, cuja porta de saída é a colaboração com as autoridades. Resumindo: fez mal feito e foi descoberto, aponta-se o dedo em todas as direções para escapar à possibilidade de cruzar o portão da cadeia. O que não garante uma vida idônea dali em diante.

O temor na esfera criminal não é compartilhado na tributária. Nesta, muitos são os ungidos. Pagam o que devem, e o céu volta a clarear com os passarinhos a cantar. O Estado se satisfaz em resumir tudo ao mais reles argentarismo; não tem nenhuma preocupação com a questão moral, nem tampouco em fazer prevalecer o império da legalidade. Deseduca ao admitir, implicitamente, que a sonegação compensa (e muito!), pois vários dispositivos dos organismos estatais nem sempre são adequadamente equipados para levantar toda a extensão do desvio. [...].

A sonegação no Brasil é um excelente negócio, no qual uns poucos desfrutam e a sociedade paga a conta. Compartilha-se o prejuízo. E sabem o que é pior? Não há um único e escasso movimento para se extinguir esse absurdo. De 1995 para cá, passamos por quatro governos diferentes (Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer) sem qualquer esperança de que algo mude nessa seara. O que indica que quem nega aos cofres públicos os impostos devidos vai continuar a fazê-lo, pois que não se verá jamais diante da hipótese clara de encarceramento. [...].

Cláudio Damasceno - presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federa para o site JOTA – Enviado por Cacau Quil - Leia na íntegra

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